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‘Bingo’ tem caminho quase impossível na corrida pelo Oscar

Vai ser preciso quase um milagre para que Bingo chegue ao Dolby Theatre em 4 de março de 2018

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 20 set 2017, 21h58 - Publicado em 20 set 2017, 13h13

Bem-recebido pela crítica, Bingo – O Rei das Manhãs foi escolhido para ser o candidato brasileiro na disputa por uma das cinco vagas da categoria do Oscar de filme em língua estrangeira. Mas o longa tem chances de chegar aos finalistas?

Baseado nas últimas premiações, a resposta não é nada animadora. VEJA fez um levantamento de dez anos na categoria, e o que predominam são longas-metragens que chegaram à premiação depois de ter uma certa exposição internacional, especialmente nos festivais de cinema mais relevantes, como Berlim, Cannes, Veneza e Toronto.

É o caso do vencedor da categoria neste ano: O Apartamento, do iraniano Asghar Farhadi, tinha conquistado os troféus de ator e roteiro no Festival de Cannes. Ou do ganhador de 2016, Filho de Saul, do húngaro László Nemes, Grande Prêmio do Júri (isto é, segundo lugar) em Cannes.

Na verdade, dos 50 indicados nos últimos anos, apenas dez não passaram por um dos festivais de cinema mais importantes do mundo. Nos últimos cinco anos, foram apenas três (leia a lista completa dos indicados abaixo).

Para a disputa de 2018, já foram indicados por seus respectivos países o sueco The Square, de Ruben Ostlund, Palma de Ouro em Cannes, o francês 120 Batidas por Minuto, de Robin Campillo, Grande Prêmio do Júri em Cannes, e o húngaro Teströl és Iélekröl, de Ildikó Enyedi, Urso de Ouro em Berlim, além de First They Killed My Father, de Angelina Jolie, exibido em Toronto, produzido no Camboja por Rithy Panh (ele próprio concorrente na categoria com A Imagem que Falta, em 2014), com equipe e elenco nacionais e com dinheiro da Netflix.

Um filme como Bingo – O Rei das Manhãs, que não passou por um festival popular como Toronto nem tem distribuição internacional garantida, tem tudo para embarcar em uma luta inglória.

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Ainda há quem veja o Oscar de produção em língua estrangeira como uma coleção de produções sobre crianças em circunstâncias difíceis que triunfam no fim ou sobre filmes a respeito da Segunda Guerra Mundial ou o Holocausto – dramas convencionais que provocam lágrimas, mas que em geral também elevam o espírito.

Mas esse tipo de filme era mais comum no passado, caso do tcheco Kolya, de Jan Sverák, premiado em 1996, e do italiano A Vida É Bela, de Roberto Benigni, que tirou a estatueta de Central do Brasil em 1998. Nos últimos anos, não faltaram Oscars para longas mais ousados, como o austríaco Amor, de Michael Haneke, o italiano A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino, e mesmo O Filho de Saul, de László Nemes, que fala de Holocausto, mas em um formato menos quadrado. Ou seja, essas preferências não existem mais.

A mudança na escolha é resultado de uma série de alterações promovidas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que antigamente confiava a uma comissão de voluntários a seleção dos cinco finalistas – normalmente, eram membros com mais tempo livre, em geral de mais idade e de posição conservadora. Só depois havia uma votação geral, em que só participavam os que haviam tinha assistido a todos os concorrentes no cinema. Agora, a comissão de voluntários assiste a todos os indicados – cada país seleciona o seu candidato, seja por votação das academias locais ou por comitês de seleção — e escolhe seus cinco favoritos, uma lista complementada por três filmes selecionados por uma comissão de notáveis. Uma medida que, acredita-se, elevou o nível de produções importantes artisticamente.

Por fim, um grupo de membros da comissão original, outros de Nova York e mais alguns de Londres elegem os cinco finalistas dos nove indicados por voluntários e notáveis juntos. E, hoje, todos os membros da Academia podem eleger a produção em língua estrangeira, porque não há mais a obrigatoriedade de assistir aos candidatos no cinema.

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Esses filmes exibidos em festivais internacionais, portanto, chegam um passo à frente de Bingo, que vai ter de trabalhar do zero, contratando especialistas para promover o longa entre membros da Academia. Verdade que o diretor Daniel Rezende já concorreu ao Oscar pela montagem de Cidade de Deus, em 2004, e desde então trabalhou em produções americanas, como A Árvore da Vida (2011), de Terrence Malick. Mas o caminho para Bingo é longo e trilhá-lo será árduo.

Também não ajuda a matemática: desde que instituído oficialmente em 1956, apenas três longas do continente americano ganharam (dois argentinos, um canadense), contra três africanos, quatro asiáticos e 51 europeus. Vai ser preciso quase um milagre para que Bingo chegue ao Dolby Theatre em 4 de março de 2018.

 

O LEVANTAMENTO

Confira abaixo a lista de indicados e vencedores, por ano, e veja quais filmes passaram por festivais antes de desembarcar no Oscar:

2017

VENCEDOR: O Apartamento (Irã), de Asghar Farhadi –prêmio de ator e roteiro Cannes

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Terra de Minas (Dinamarca), de Martin Zandvliet – Toronto

Um Homem Chamado Ove (Suécia), de Hannes Holm

Tanna (Austrália), de Martin Butler e Bentley Dean – Veneza

Toni Erdmann (Alemanha), de Maren Ade – Cannes

 

2016

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VENCEDOR: Filho de Saul (Hungria), de László Nemes – Grande Prêmio do Júri em Cannes

O Abraço da Serpente (Colômbia), de Ciro Guerra – Cannes

A War (Dinamarca), de Tobias Lindholm – Veneza

Cinco Graças (França), de Deniz Gamze Ergüven – Cannes

O Lobo do Deserto (Jordânia), de Naji Abu Nowar – Veneza

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2015 

VENCEDOR: Ida (Polônia), de Pawel Pawlikowski – Toronto e Londres

Tangerines (Estônia), de Zaza Urushadze

Leviatã (Rússia), de Andrey Zvyagintsev – prêmio de roteiro em Cannes

Relatos Selvagens (Argentina), de Damián Szifron – Cannes

Timbuktu (Mauritânia), de Abderrahmane Sissako – Cannes

 

2014

VENCEDOR: A Grande Beleza (Itália), de Paolo Sorrentino – Cannes

Alabama Monroe (Bélgica), de Felix van Goeningen –Berlim

A Caça (Dinamarca), de Thomas Vinterberg – melhor ator em Cannes 

A Imagem que Falta (Cambodia), de Rithy Panh – vencedor Um Certo Olhar em Cannes

Omar (Palestina), de Hany Abu-Assad – Prêmio Especial Um Certo Olhar em Cannes

 

2013 

VENCEDOR: Amor (Áustria), de Michael Haneke – Palma de Ouro em Cannes

A Feiticeira da Guerra (Canadá), de Kim Nguyen – melhor atriz em Berlim

No (Chile), de Pablo Larraín – Cannes

O Amante da Rainha (Dinamarca), de Nikolaj Arcel – melhor ator e roteiro em Berlim

Kon-Tiki (Noruega), de Joachim Rønning e Espen Sandberg

 

2012

VENCEDOR: A Separação (Irã), de Asghar Farhadi – Urso de Ouro, Urso de Prata de atores, Urso de Prata para atrizes

Bullhead (Bélgica), de Michaël R. Roskam – Cannes

Nota de Rodapé (Israel), de Joseph Cedar – melhor roteiro em Cannes

In Darkness (Polônia), de Agnieszka Holland

O Que Traz Boas Novas (Canadá), de Philippe Falardeau – Locarno e Toronto

 

2011

VENCEDOR: Em um Mundo Melhor (Dinamarca), de Susanne Bier

Biutiful (México), de Alejandro González Iñárritu – melhor ator em Cannes

Dente Canino (Grécia), de Yorgos Lanthimos – Cannes

Incêndios (Canadá), de Denis Villeneuve – Toronto

Fora-da-Lei (Argélia), de Rachid Bouchareb – Cannes

 

2010

VENCEDOR: O Segredo dos Seus Olhos (Argentina), de Juan José Campanella – San Sebastián

A Teta Assustada (Peru), de Claudia Llosa – Urso de Ouro em Berlim

A Fita Branca (Alemanha), de Michael Haneke – Palma de Ouro em Cannes

Ajami (Israel), de Scandar Copti e Yaron Shani – Cannes

O Profeta (França), de Jacques Audiard – Grande Prêmio do Júri em Cannes

 

2009

VENCEDOR: A Partida (Japão), de Yôjirô Takita

Entre os Muros da Escola (France), de Laurent Cantet – Palma de Ouro em Cannes

O Grupo Baader Meinhof (Alemanha), de Uli Edel

Valsa com Bahshir (Israel), de Ari Folman – Cannes

Revanche (Áustria), de Götz Spielmann – Berlim

 

2008

VENCEDOR: Os Falsários (Áustria), de Stefan Ruzowitzky – Berlim

Beaufort (Israel), de Joseph Cedar – Berlim

O Guerreiro Genghis Khan (Cazaquistão), de Sergei Bodrov

Katyn (Polônia), de Andrzej Wajda

12 (Rússia), de Nikita Mikhalkov – Veneza

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