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Bianca Del Rio sobre o sucesso das drag queens: “É o poder da TV”

Artista, que está no Brasil fazendo shows de sua nova turnê de stand-up, fala sobre a popularização da categoria nos últimos anos

Por Marcelo Canquerino Atualizado em 12 abr 2022, 13h16 - Publicado em 1 abr 2022, 16h52

Quando a primeira temporada de RuPaul’s Drag Race foi ao ar, em 2009, a produção modesta e o alcance pequeno pareciam indicar que o reality show não faria sucesso. Pouco tempo depois, porém, a competição entre drag queens comandada pela diva desse mundinho RuPaul provou-se um fenômeno, principalmente dentro da comunidade LGBTQIA+. Com uma história marcada pela marginalização, o universo das drag queens virou o jogo ao menos na TV: nunca foi tão popular — especialmente no Brasil, que recentemente ganhou um programa aos moldes de RuPaul’s Drag Race na HBO Max. Essas artistas conquistaram fama e reconhecimento por meio da televisão e, principalmente, puderam exibir ao grande público seus multi-talentos artísticos — que vão desde a criação de roupas até grandes apresentações de lypsync (técnica de sincronia labial usada em dublagens musicais).

Dentre as várias ganhadoras que já passaram pela competição, atualmente em sua 14ª temporada, Bianca Del Rio provou-se uma das mais engraçadas e carismáticas. Personagem criada por Roy Haylock, de Nova Orleans, nos Estados Unidos, a drag queen expandiu seus talentos para além do programa e se descobriu nos shows de stand-up comedy. Bianca, que já fez uma passagem com shows de comédia no Brasil em 2018, retorna agora com apresentações de sua nova turnê, Unsanitized, em São Paulo, de 31 de março a 1º de abril, e em Curitiba, no dia 2 de abril, na Ópera Arame. Em entrevista a VEJA, a drag falou sobre a importância de RuPaul’s Drag Race para a popularização da cultura drag no mundo e sobre as influências latinas de sua família na construção de sua personagem. Confira:

No começo, a arte drag era muito marginalizada e hoje caiu nas graças do público. Por que houve essa mudança? Bom, é o poder da televisão. A maioria das pessoas julga ou tem medo das coisas que não conhece. É quase uma ignorância social, por assim dizer. Quando comecei, as drag queens trabalhavam em bares gays ou pequenos cabarés. Para vê-las, as pessoas tinham de ir a esses lugares. E mesmo dentro da comunidade gay, os homens gays não eram os mais empolgados com as drag queens. Na verdade, era praticamente o oposto — se fosse drag, era menosprezada. E então a televisão e a exposição mudaram essa visão. As pessoas passaram a nos ver como seres humanos e a entender que esse é nosso trabalho, não nossa identidade. A televisão também foi uma ótima vitrine para mostrar o que é preciso para se tornar um artista drag e quantos tipos diferentes de artistas existem. O lado humano se tornou aquele em que as pessoas estavam interessadas. Nós não tínhamos um programa de televisão que nos expôs por quem éramos. Nosso universo começou a ser mais apreciado. 

Como você enxerga a importância de programas como Rupaul ‘s Drag Race para a popularização da cultura drag? Eu não tenho ideia de como cheguei até aqui. Mas é o tipo de coisa que abre os olhos das pessoas. Acredito ser importante mostrar todos os lados da cultura gay e iluminar a vida das pessoas que fazem performance – você não precisa ser gay, aliás, para ser uma drag queen. Temos de inspirar pessoas e dar oportunidades a elas para serem destemidas e viverem a vida que elas escolheram para si mesmas. Atualmente, as drag queens estão em todos os lugares, quase caindo de árvores a cada esquina — e isso é incrível. 

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Usar o humor como parte da construção de sua drag foi algo que você sempre quis ou você precisou se agarrar ao humor como uma forma de resistência? Quando comecei, em 1996, meu plano não era necessariamente fazer comédia. Acabou acontecendo. Eu trabalhava em um clube. Certo dia, uma das atrações ficou doente e eu acabei substituindo. Foi uma experiência diferente para mim porque o show tinha muito lyp sync, assim como grande parte dos shows de drag queens — algumas fazem isso maravilhosamente bem e outras, nem tanto. Bom, eu faço isso meio mal. Então, prefiro conversar mais com o público. Quando me apresentei nesse dia, era uma quarta-feira de madrugada, por volta de 1 ou 2 da manhã, e as pessoas estavam bêbadas. Acho que foi aí que minha “malícia” começou. Estava lidando com um público rebelde e louco — e estava tentando tirar o melhor proveito da situação. Foi então que percebi que era o que eu gostava de fazer. O que mais amo é a interação com as pessoas. Colocar uma peruca me deu poder e se mostrou uma mistura perfeita para mim. Agora, anos depois, é meio louco pensar que essa tem sido minha carreira. Não foi algo intencional. 

Qual a importância da sua ascendência latina na construção de sua drag? Cresci em uma casa onde a mãe era cubana e o pai, de Honduras. Sou o quarto de cinco filhos. Morávamos na Louisiana desde quando eu nasci. Crescendo dentro de uma família hispânica percebi que existiam algumas regras a serem seguidas, como “não compartilhe seus negócios com os outros e mantenha todos os segredos dentro da família”. Bom, eu sempre gostei muito de falar e isso foi um problema quando era pequeno. Fui influenciado por tudo isso. Havia tantas figuras excêntricas ao meu redor, como minha avó, minha mãe, minhas tias. Elas eram extravagantes, seja na maquiagem, seja com suas personalidades sociáveis – os hispânicos fazem uma festa para cada evento, praticamente. Então, foi enquanto eu crescia que meu amor por festas e pelas pessoas aflorou.  Toda mulher hispânica adora um delineador e cílios. Carrego isso comigo até hoje.

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