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Beth O’Leary: ‘Ler uma comédia romântica é como receber um abraço’

Autora de 'Um Teto para Dois' fala a VEJA sobre a adaptação de sua obra para as telas e as inspirações reais de seus livros

Por Gabriela Caputo 26 jun 2023, 08h30
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  • Beth O’Leary, 31 anos, escreveu seu primeiro romance durante as viagens de trem do interior da Inglaterra até Londres, onde trabalhava com publicações infantis. Fã das comédias românticas (principalmente das narrativas de Sophie Kinsella, do pop Os Delírios de Consumo de Becky Bloom), a britânica sonhava em um dia lançar seu próprio livro. Não demorou: Teto para Dois, publicado em 2019, logo tornou-se best-seller mundial ao contar a história de dois estranhos que dividem uma casa, mas nunca se encontram. No Brasil, apareceu por mais de 45 semanas (não consecutivas) na lista dos títulos mais vendidos feita por VEJA. Desde então, Beth emendou um livro atrás do outro, sendo o quarto e mais recente deles Mesa para Um, publicado pela Intrínseca. A trama gira em torno de três mulheres que levam um bolo do mesmo homem no Dia dos Namorados.

    Teto para Dois foi recentemente adaptado para as telas pela Paramount+, em formato de minissérie. A VEJA, Beth relata a experiência. “Sempre há certo apego com seu primeiro livro. Tive de encarar a adaptação como um trabalho criativo de outra pessoa, algo que não me pertencia, ainda que inspirado em meu livro”, explicou. Outros dois títulos já tiveram seus direitos adquiridos para o audiovisual: além de Mesa para Um, o romance A Troca ganhará vida pela produtora de Steven Spielberg. A história aborda a relação entre uma avó e uma neta que decidem trocar de vida entre si, e será protagonizada por Rachel Brosnahan, de Maravilhosa Sra. Maisel.

    Em entrevista a VEJA, Beth O’Leary falou sobre as razões da popularidade do gênero romântico hoje em dia e como se inspirou em sua própria vida para escrever sua obra de estreia. Confira:

    É verdade que Teto para Dois foi inspirado em sua vida pessoal? Sim. A ideia surgiu quando fui morar com meu então namorado, agora marido, depois de três anos de relacionamento à distância. Ele era um médico júnior [profissionais em treinamento de pós-graduação no Reino Unido], então trabalhava por longos períodos e fazia turnos noturnos. Eu nunca o via, mas encontrava pistas sobre como havia sido o dia dele por meio de pequenas coisas, como os restos de comida na geladeira ou quantas xícaras de café havia na pia. Essas descobertas no espaço compartilhado me fizeram pensar no que aconteceria se estranhos vivessem naquele arranjo, e o que eles poderiam aprender um sobre o outro. Também costumávamos deixar bilhetes o tempo todo, por isso no livro há o elemento dos post-its. 

    Quanto a Mesa para Um, seu último lançamento, houve alguma fonte de inspiração direta? Meu livro anterior, Na Estrada com o Ex, é um romance de verão, quente e claustrofóbico, com poucos personagens. Sinto que cada um dos meus romances é, de certa forma, uma espécie de reação ao anterior. Então, depois dessa experiência de escrita inebriante, estava procurando algo um pouco mais expansivo, e queria tentar escrever em mais de duas vozes. Algo como o clássico de natal Simplesmente Amor, em que todos os enredos se entrelaçam e caminhos se cruzam. Assim cheguei à premissa de conectar três mulheres que levam um bolo de um mesmo cara. A questão de como isso se daria me deixou intrigada — esse sentimento costuma ser um sinal de que há algo para explorar e que outras pessoas também podem achar interessante.

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    Títulos de comédia romântica escritos por mulheres estão em alta, sobretudo com o impulso da comunidade de leitores do TikTok. Por que acha que o gênero anda tão bem em vendas? Há algo muito reconfortante em ler um livro que é um lugar seguro em que não se vai sofrer grandes abalos. A experiência de ler uma comédia romântica é como a de receber um abraço, você sabe que tudo vai ficar bem no final. Isso é muito atraente em tempos difíceis. Também acho que há um tipo de movimento de jovens leitores mais abertos à leitura de romances. Não faz muito tempo que isso era algo que as pessoas escondiam em suas mesas de cabeceira, definindo como guilty pleasure [prazer culposo, em português]. Por que não podemos nos dar alegria e escapismo apenas para o nosso próprio bem e pela diversão? É incrível ver pessoas defendendo o romance hoje. 

    Há alguma particularidade do gênero que não existia nos últimos 10, 20 anos? Temos muito mais diversidade e inclusão, isso obviamente o torna mais atraente para o leitor moderno. Há também a questão das amizades femininas. Amo ler e escrever sobre mulheres com outras mulheres fortes ao seu redor. Além de um arco de romance para a protagonista, há histórias de amor com outras pessoas em suas vidas. Eu tenho amizades femininas muito fortes, e é ótimo poder honrar e refletir sobre isso enquanto escrevo.

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    O que não pode faltar em uma boa trama de romance? Eu ia dizer personagens amáveis, mas, na verdade, seriam pessoas reais, por quem vamos nos apaixonar, torcer, e perdoar suas falhas, porque somos todos imperfeitos. Também precisa ter aquela química forte, já que o que te move pelas páginas é querer chegar no “felizes para sempre”. Ajuda muito ter um conceito que possa ser resumido em uma linha, ou seja, a premissa da história não deve ser tão difícil de encapsular e deve ser empolgante. São tramas assim que te fazem saltar os olhos e escolher dar uma chance para o livro. 

    Você publicou quatro livros bem-sucedidos em um tempo relativamente curto. Quais as próximas ambições? Escrevi praticamente um livro por ano, exceto durante o último ano, em que também tive um bebê — isso me atrasou um pouco, mas não parei de escrever. Foi interessante, acabei escrevendo no meu telefone enquanto fazia as amamentações noturnas. Não é apenas trabalho para mim, acho que é uma parte de quem sou. Eu gostaria de continuar fazendo isso enquanto me permitirem. Quero ser essa autora que, em todo verão, podem confiar em mim para entregar um romance que trará alegria. Isso me dá uma grande sensação de dever cumprido.

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