A imagem que muitos têm de Elvis Presley (1935-1977) é a do astro decadente do fim da vida. Por que preferiu mostrar no filme um Elvis jovem e mais alto-astral? De muitas maneiras, Elvis sempre foi um divertido símbolo da América. Nos anos 1950, ele foi vital, punk e rebelde. Na década de 60, foi o ator mais bem pago de Hollywood. Finalmente, nos anos 1970, tornou-se aquele artista gordo caindo aos pedaços. Ele foi o primeiro ícone pop global — e uma metáfora da América daquele período. É quase inacreditável que tenha vivido só 42 anos.
Priscilla e Lisa Marie Presley, viúva e filha do cantor, tiveram algum poder sobre o filme? De jeito nenhum. Eu me encontrei com elas, claro, mas perdi o contato. Priscilla foi cínica, compreensivelmente, sobre a atuação de Austin Butler. Ela estava preocupada com o que faríamos com a história de seu marido. Mas as duas não ditaram nada.
Como retratar Elvis sem cair na caricatura? Foi uma pergunta que me fiz muitas vezes, porque Elvis é a pessoa mais parodiada do mundo. Mas personificação e atuação são coisas diferentes. Grandes imitadores não são, necessariamente, grandes atores. Muitos conseguem imitar a voz de Elvis, mas não interpretá-lo.
O senhor se notabilizou por filmes musicais como Moulin Rouge. Como essa experiência o ajudou em Elvis? O filme não é um musical, mas é quase operístico. Eu credencio o resultado à minha equipe. Adoro trabalhar com músicos, produtores, compositores. Amo essa parte do processo.
Elvis foi acusado de ser um branco que se apropriou da cultura negra. Como vê essa crítica? Eu não tive nenhuma preocupação com isso no filme, por uma razão simples: sem a música negra, Elvis jamais existiria. Elvis cresceu em uma comunidade negra, frequentou igrejas gospel. Era pobre e seu pai chegou a ser preso. O que eu fiz foi mostrar essa parte da história.
Por que investiu numa trilha sonora moderna, com canções de Elvis interpretadas por artistas contemporâneos? As músicas de Elvis são clássicas e estão lá no filme. Mas quis também convidar o Jack White, que gravou um dueto póstumo com ele. O Coronel Parker (empresário do cantor) jamais deixou Elvis fazer dueto. Então, você tem a música como era e como ela poderia ter sido. E mixei Viva Las Vegas com Toxic, de Britney Spears, para que os jovens sintam como Elvis era pop.
Publicado em VEJA de 27 de julho de 2022, edição nº 2799