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As inspiradoras memórias de um escritor na São Paulo de antigamente

No belo 'O Espelho e a Mesa', Roberto Pompeu de Toledo conduz o leitor a uma viagem por sua infância e juventude

Por Marisa Lajolo
Atualizado em 4 jun 2024, 11h59 - Publicado em 15 Maio 2022, 08h00
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  • Bons textos sempre evocam outros textos para seus leitores, leituras antigas, que deixaram rastros. Os olhos abandonam a página, a memória vai em busca do mundo das lembranças. E quando lá encontra o que buscava, retorna à leitura, banhada agora na história das leituras de cada um. Foi assim que o mais recente e tocante livro de Roberto Pompeu de Toledo, O Espelho e a Mesa, me levou ao Drummond do poema Memória. Seus versos curtos ensinam a conviver com a perda, e até mesmo a beleza dela. Nas palavras do poeta fica a lição: “As coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão”.

    O espelho e a mesa: Memórias de infância e juventude

    Ponto-final em Drummond e vamos a Pompeu. O livro do escritor, jornalista e ex-colunista de VEJA é apresentado no site da editora como um “quase romance, fronteira entre a autobiografia e a ficção” — e o subtítulo, Memórias de Infância e Juventude, referenda a apresentação. Ao longo de suas páginas habilmente interrompidas por recados ao leitor, a história é fiel ao que anuncia sua sóbria capa em tons de cinza e negro — uma sobriedade duplicada no tom da narração.

    PAULISTANO - O bondinho da Avenida Angélica: arqueologia amorosa da cidade -
    PAULISTANO - O bondinho da Avenida Angélica: arqueologia amorosa da cidade – (Carlheinz Hahmann/.)

    É a partir de objetos de família que o escritor vai puxando episódios de sua vida. Na evocação de sua São Paulo, Pompeu se encontra com seus leitores. Tanto aqueles que viveram episódios parecidos, como também os que só ouviram falar de bailinhos ao som de Silvio Mazzuca e de disco de 78 rotações. É um mundaréu de objetos, situações e figuras que fizeram e ainda fazem parte da vida do autor. Um espelho e uma mesa, já presentes no título do livro, são os primeiros deles. Mas a história vai além: nesse aglomerado de coisas e de memórias o individual se funde com o coletivo.

    A capital da solidão

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    A cena da entrada na escola, precedida de um hino cantado pelos alunos, a menção a carros cujo motor “afogava” nas subidas, aos bondes da Avenida Angélica, se acompanham do beijo no rosto e das mãos dadas como limite de namoro. Comparecem também anedotas políticas do tempo de Jânio Quadros e João “Jango” Goulart, a novidade da televisão chegando ao Brasil, a celebração do quarto centenário de São Paulo. Enfim, é um saboroso panorama brasileiro, e sobretudo paulistano, que o leitor percorre junto com o narrador.

    A capital da vertigem

    Voltando ao plano individual das memórias de Pompeu, há muitas alusões à leitura, à escrita e a seus instrumentos: uma máquina de escrever Remington, uma escrivaninha, uma caneta-tinteiro. Na esteira de gibis, romances, cronistas e poetas, a menção aos livros lidos por Pompeu é entrecortada de modestíssimas alusões aos primeiros ensaios no mundo da escrita: o álbum encadernado em que teceu biografias de personagens da história do Brasil, o rascunho do que seria registrado no álbum da colega querida, as crônicas datilografadas.

    O ESPELHO E A MESA, de Roberto Pompeu de Toledo (Objetiva; 256 páginas; 69,90 reais e 39,90 reais em e-book) -
    O ESPELHO E A MESA, de Roberto Pompeu de Toledo (Objetiva; 256 páginas; 69,90 reais e 39,90 reais em e-book) – (./.)
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    Além do périplo pela São Paulo de ontem e de hoje, O Espelho e a Mesa nos põe frente a frente com um escritor que dedilha o avesso e o direito da fina arte de contar histórias. A narração, salpicada de pequenos toques, meio que orquestrando a apreciação do livro, dá consciência ao leitor de que, entre o vivido e o narrado, está o competente profissional das letras que compartilha as idas e vindas de seu texto. “Estou quase escrevendo que nessa época o amor também não existia”, comenta. Em outro trecho, confessa: “Corado de vergonha pela exposição diante de quem venha a deitar os olhos sobre esse parágrafo”.

    No capítulo final, uma bela e breve reflexão sobre a vida. Pompeu propõe a passagem de um tempo contado em dias, semanas, meses e anos para um tempo calculado em lembranças e memórias. Reminiscências como as que o leitor acabou de sorver neste livro, e que dão vontade de voltar ao começo dele. Ou mergulhar nas suas próprias. O primeiro capítulo, intitulado “Espelho”, se constrói em torno desse objeto concreto e transforma-se, ao final da leitura, numa metáfora do que o narrador faz nessa obra e que nos provoca a fazer o mesmo: uma irresistível viagem no bonde da história e da memória. Vamos lá?

    Publicado em VEJA de 18 de maio de 2022, edição nº 2789

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