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Arte e álcool em gel: uma visita ao Masp na reabertura dos museus

Tradicional museu de São Paulo voltou às atividades com agenda alterada por causa da pandemia e mostras que abrem mão da interatividade

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 out 2020, 11h48 - Publicado em 14 out 2020, 11h45
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  • Máscara no rosto, uma segunda máscara na bolsa ao lado do potinho de álcool em gel. Estava pronto o kit “sair de casa durante a pandemia”. Meu destino era o Museu de Arte de São Paulo (Masp), que após sete meses fechado voltou a funcionar na terça-feira, 13 de outubro, assim como diversas outras instituições culturais da cidade. Com o pé na rua, pensei: “Será que o elevador do Masp está funcionando? Terei de subir aquela escadaria com máscara?” Senti uma leve falta de ar só de pensar. Chegando ao tradicional Vão Livre do Masp, para minha surpresa, uma fila, ainda que modesta, se formava na entrada do museu. Para minha alegria, o elevador estava, sim, funcionando.

    Ironicamente, no ano em que o Masp elegeu para celebrar a arte da dança, o mundo entrou em uma fase, por assim dizer, engessada. Como já se sabe, o novo normal é pautado por muitas marcações no chão que garantem distanciamento social, álcool em gel em abundância e rostos semi-cobertos por máscaras, além de protetor facial para os funcionários. Na entrada, visitantes apresentam o ingresso virtual em seus celulares e são recebidos por um termômetro digital. Lá dentro, a estrutura ampla e o número limitado de pessoas por mostra reforçam que o Masp não enfrentará dificuldades em manter o distanciamento entre os visitantes.

    Duas exposições estavam prontas para abrir quando a quarentena começou em São Paulo. Elas ficaram adormecidas para agora, finalmente, serem apreciadas pelos visitantes. Uma delas é Hélio Oiticica: A Dança na Minha Experiência. O artista plástico carioca é celebrado na exposição de cores quentes com 126 trabalhos, muitos deles relacionados à sua veia performática. Incentivador da arte interativa, em que o público pode tocar e se vestir com suas obras, Hélio Oititica (1937- 1980) acabou relegado a ser admirado à distância, por culpa da pandemia. “Produzimos doze réplicas dos parangolés criados pelo artista. A ideia era que o público pudesse vesti-los e tirar fotos diante de dois espelhos posicionados nas laterais. Isso não poderá mais acontecer”, conta Tomas Toledo, curador-chefe do Masp, sobre as capas coloridas, com textos e fotos, popularizadas por Oititica após sua imersão na escola de samba Mangueira. Apesar das normas de exceção, os espelhos foram mantidos, e assim o público ainda pode ostentar nas redes sociais uma selfie com os parangolés pendurados ao fundo.

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    Mostra ‘Hélio Oiticica: A Dança na minha Experiência’, no Masp (//VEJA)
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    Réplicas dos parangolés de Hélio Oiticica, no Masp (Masp/Divulgação)

    Outra mostra que estava pronta para abrir e previa, além de interação, a participação de dançarinos é Trisha Brown: Coreografar a Vida. A obra da coreógrafa e bailarina americana ocupa o 1º andar do museu. Essa é a primeira vez que Trisha Brow (1936-2017) é exposta no Brasil. Em contraposição à explosão de cores e manifestos de Oititica, a mostra sobre Trisha é pura calmaria, com uma belíssima composição de fotos e vídeos da bailarina de movimentos pioneiros na história da dança. Completam o espaço hipnotizantes telas de carvão sobre papel com mais de 3 metros de altura.

    Já a artista Senga Nengudi (1943-) teve sua mostra montada durante o período do museu fechado. São 50 trabalhos entre instalação, fotografias, desenhos e curiosas esculturas feitas com meias calças de nylon.

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    Mostra ‘Trisha Brown: Coreografar a Vida’, no Masp (//VEJA)
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    Obra da artista Senga Nengudi em exposição no Masp (Masp/Divulgação)

    O longo período fechado afetou a agenda do museu. As três exposições ficarão em cartaz apenas até a terceira semana de novembro (Senga e Trisha fecham no dia 15; Oititica, no dia 22). A mostra coletiva anual Histórias da Dança acabou resumida a um catálogo. Enquanto duas outras exposições de forte potencial para atrair o público estão marcadas para o fim de dezembro. São elas uma mostra dedicada ao pintor Edgar Degas (1834-1917), que abre em 4 de dezembro, e outra da brasileira de status pop Beatriz Milhazes, no dia 12 de dezembro. Já o esperado tema Histórias Indígenas, previsto para 2021, foi levado para 2023, pela complexidade e tamanho da mostra, que trará obras e curadores de fora do país.

    O quebra-cabeça faz parte da logística que reorganizou as finanças do museu. Com receita de bilheteria zerada por sete meses, a instituição, que conta com um orçamento de 43 milhões de reais anual, enxugou seus contratos com terceiros ao mesmo tempo em que precisou investir mais em equipes operacionais, caso da segurança e da manutenção das obras e do espaço. Assim, estima-se que o museu fechado ainda teve um custo mensal em torno de 1 milhão de reais. “Conseguimos equilibrar essa perda de receita, mas vai demorar alguns bons meses para que o museu volte a se estabilizar. Por isso, aguardamos o retorno do público”, diz Fabio Frayha, diretor executivo do Masp.

    Para quem quiser fazer parte deste público, o Masp agora funciona de terça-feira a sexta-feira, das 13h às 19h, e aos sábados e domingos das 10h às 16h. Os ingressos devem ser adquiridos online. E as terças-feiras continuam gratuitas, também com entradas marcadas de forma virtual.

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