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Após críticas, Fabiana Cozza renuncia ao papel de Dona Ivone Lara

A cantora anunciou na semana passada que interpretaria a grande dama do samba, mas sofreu muitas críticas por ser "branca demais" para o papel

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 4 jun 2018, 13h29 - Publicado em 3 jun 2018, 19h32
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  • A cantora Fabiana Cozza anunciou pelas redes sociais, neste domingo, 3, que renunciou ao papel de Dona Ivone Lara no musical sobre a sambista, com estreia prevista para setembro deste ano.

    Na sua página no Facebook, Fabiana publicou um texto enorme no qual diz não participar mais de Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro – O Musical!, dias depois de todo o elenco da produção ter sido anunciado. Fabiana interpretaria Dona Ivone na vida adulta.

    “Renuncio por ter dormido negra numa terça-feira e numa quarta, após o anúncio do meu nome como protagonista do musical, acordar ‘branca’ aos olhos de tantos irmãos”, escreveu Fabiana.

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    Fabiana Cozza dos Santos, brasileira Nascimento: 16 de janeiro de 1976 Mãe: Maria Ines Cozza dos Santos, branca Pai: Oswaldo dos Santos, negro Cor (na certidão de nascimento): parda Foto: @leonardo.gola Aos irmãos: O racismo se agiganta quando transferimos a guerra para dentro do nosso terreiro. Renuncio hoje ao papel de Dona Ivone Lara no musical “Dona Ivone Lara – um sorriso negro” após ouvir muitos gritos de alerta – não os ladridos raivosos. Aprendo diariamente no exercício da arte – e mais recentemente no da academia, sempre com os meus mestres – que escuta é lugar de reconhecimento da existência do Outro, é o espelho de nós. Renuncio porque falar de racismo no Brasil virou papo de gente “politicamente correta”. E eu sou o avesso. Minha humanidade dói fundo porque muitas me atravessam. Muitos são os que gravam o meu corpo. Todas são as minhas memórias. Renuncio por ter dormido negra numa terça-feira e numa quarta, após o anúncio do meu nome como protagonista do musical, acordar “branca” aos olhos de tantos irmãos. Renuncio ao sentir no corpo e no coração uma dor jamais vivida antes: a de perder a cor e o meu lugar de existência. Ficar oca por dentro. E virar pensamento por horas. Renuncio porque vi a “guerra” sendo transferida mais uma vez para dentro do nosso ilê (casa) e senti que a gente poderia ilustrar mais uma vez a página dos jornais quando ‘eles’ transferem a responsabilidade pro lombo dos que tanto chibataram. E seguem o castigo. E racismo vira coisa de nós, pretos. E eles comemoram nossos farrapos na Casa Grande. E bebem, bebem e trepam conosco. As mulatas. Renuncio em memória a todas negras estupradas durante e após a escravidão pelos donos e colonizadores brancos. (continuação da carta em outro Post…)

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    Nas redes sociais, a questão racial foi muito debatida por fãs da sambista e por páginas do movimento da cultura negra. Para muitos, Fabiana era considerada “branca demais” para o papel.

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    Dona Ivone Lara morreu no mês de abril, aos 97 anos. O musical Um Sorriso Negro foi idealizado por Jô Santana, em um mesmo projeto que homenageou outros nomes do samba, como Cartola (em Cartola, O Mundo É um Moinho).

    A direção e dramaturgia do projeto é de Elísio Lopes Jr. e a direção musical está sob a batuta de Rildo Hora.

    A produção do musical não se pronunciou oficialmente, mas republicou o texto de renúncia da cantora na página da própria produção, com a adição da foto abaixo, na qual Dona Ivone Lara e a Fabiana Cozza dividiam o palco.

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