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Laura Dern: “Aos 50, entendi o que é ser mulher”

Em entrevista a VEJA, Laura Dern fala de sua personagem em 'Big Little Lies' e sobre envelhecer diante das câmeras

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 jul 2019, 17h18 - Publicado em 7 jun 2019, 07h00

Antes de completar 10 anos, Laura Dern já circulava pelos sets de Hollywood e recebia conselhos de Martin Scorsese. Seria difícil escolher outra profissão. Filha dos atores Bruce Dern e Diane Ladd, ela cresceu entre personalidades que a maioria das crianças só admirava na tela. Hoje, aos 52 anos, a atriz americana, indicada duas vezes ao Oscar, se vê pela primeira vez em um elenco majoritariamente feminino, em Big Little Lies. Em entrevista a VEJA, Laura fala de sua personagem e sobre envelhecer diante das câmeras.

Como foi a experiência de trabalhar ao lado de tantas atrizes? Incrível, pois, apesar dos anos de carreira, nunca tivemos a chance de experimentar a vivência de uma tribo de mulheres. Geralmente, ficamos isoladas em elencos masculinos, com poucas cenas com mais de duas ou três atrizes. Por isso nos apegamos umas às outras. A melhor notícia que já recebi foi a de que o público pedia uma nova temporada e de que a autora atenderia ao pedido.

Renata é a personagem que o público amava odiar. No fim, ela consegue conquistar a todos. Como foi essa construção? Gosto de encontrar algo intolerável em uma personagem e aprender a sentir empatia por ela. Sinto-me realizada quando essa empatia chega ao público. Eu a amo, mas a Renata me deixa exausta. Quando termino um dia de trabalho, estou cansada. Ela é muito intensa. Sente tudo na potência máxima. Na primeira temporada, tive de passar pelo escrutínio e fazer o público se interessar por ela. Agora, vamos explorar mais sua história pessoal. Sem contar que, finalmente, ela terá amigas. É engraçado pensar que Renata precisou que um assassinato acontecesse para conseguir amizades sinceras.

Sua personagem é superprotetora com a filha. Como vê o tratamento que a série dá à maternidade? É bastante honesto. Ser mãe é uma tarefa complicada, que desperta medo. A superproteção causa um efeito contrário, fazendo com que a relação entre pais e filhos fique superficial. Acho interessante que a história seja pela ótica das mães, com suas inseguranças e falhas. Essas mulheres têm em comum o desejo de fazer o melhor por seus filhos.

Quais conselhos seus pais lhe deram no início da carreira? Eles me disseram para ser uma atriz que se importasse com os personagens, não com a fama. E que eu nunca deveria interpretar só um tipo de pessoa ou só protagonistas.

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Sendo uma nativa de Hollywood, como vê as mudanças que hoje são exigidas no tratamento às mulheres? Cresci vendo minha mãe ser par romântico de homens vinte anos mais velhos que ela. Quando ela chegou aos 60, o marido em cena teria 85 anos — enquanto o colega homem de 60 estaria comigo no papel de esposa. É uma maluquice. Tem sido assim desde sempre, e fico feliz em ver que estamos mudando. Espero realmente que o mundo aceite o envelhecimento feminino. Quando me ofereceram o papel da mãe de Reese no filme Livre, muitas pessoas me disseram que eu não deveria aceitá-lo. Que acabaria com a minha carreira interpretar a mãe de alguém de idade próxima à minha. Mas foi uma experiência ótima, que me abriu portas. É válido dizer que a personagem de Reese passa por várias fases, da juventude à maturidade. Interpreto a mãe no início. Então eu estava na idade correta, e Reese vivia alguém mais jovem.

Como você tem lidado com o envelhecimento? Para mim, a sexualidade, a maternidade e o trabalho são coisas que acontecem. Foi depois de tudo isso, quando me senti estabilizada e experiente, que descobri quem eu sou. Descobri o que me inspira, me motiva, o que me atrai sexualmente. Qual meu gosto para arte, para pessoas. Entendi como me sentir confortável na minha pele. Passei a refletir sobre o que considero sucesso. Sobre quanto vale meu cachê e como negociá-lo. Sobre como ser mãe sem a interferência alheia. Todas essas responsabilidades ficaram mais leves. Eu me sinto mais sexy e mais honesta. Feliz por ser mulher. Parece que sempre me disseram que eu era uma mulher, mas agora, depois dos 50, entendi o que isso significa.

Você é uma ativista declarada pelos direitos das mulheres e pelo controle de armas. Preocupa-se com alguma outra questão política? Os Estados Unidos estão vivendo um inferno. São constantes as notícias sobre tiroteios em escolas. A crise migratória é trágica. Crianças estão sendo literalmente encarceradas em detenções, pois suas famílias tentavam escapar de países pobres e violentos em busca de asilo. Para mim, vivemos um cenário trágico. Pelo que sei, no Brasil a situação não está muito melhor. O problema é que temos líderes que não sentem empatia pelo próximo. Um país governado sem o mínimo de compaixão é o inferno. Em compensação, fico feliz ao ver os jovens se levantando em protestos e pedindo por seus direitos. Minha filha de 14 anos está ansiosa para votar. Os jovens querem ser ouvidos.

Publicado em VEJA de 12 de junho de 2019, edição nº 2638

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