“Todos os adultos já foram crianças. Mas poucos se lembram disso”, diz a dedicatória de Antoine de Saint-Exupéry no início do livro O Pequeno Príncipe. Endereçada ao seu amigo Léon Werth, a frase diz muito sobre a obra clássica de 72 anos, que celebra a criatividade da infância e as muitas facetas do amor. Mundialmente famosa e inspiração de diversas adaptações cinematográficas, a história ganha este ano mais um cartaz no cinema com a animação assinada por Mark Osborne, diretor do indicado ao Oscar Kung Fu Panda (2008).
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Sem ambições de ser uma cópia literal da história, simplesmente transposta das páginas para as telas, a nova adaptação traz frescor à obra com uma releitura respeitosa, poética e terna sobre o Príncipe que vive em um planeta pouco maior do que ele mesmo e que se sente sufocado por sua exigente rosa – relação que o leva a viajar por outros mundos.
Enquanto, na trama original, o protagonista encontra no deserto um aviador perdido e o ajuda a se lembrar de como é ser criança, na história proposta por Osborne a personagem principal é uma garotinha (voz de Larissa Manoela) que, antes mesmo de ser adulta, já se comporta como uma. Envolta pela pressão da mãe de crescer e ser bem-sucedida, a menina segue à risca um calendário que cronometra os horários de seus dias, preenchidos principalmente com estudos e atividades consideradas “essenciais”. Os planos da dupla saem dos trilhos quando elas se mudam para o lado de um antigo aviador (voz de Marcos Caruso). Em um processo inverso, agora é o adulto que mostra para a jovem vizinha o mundo lúdico da infância, narrado por páginas soltas com a história do Pequeno Príncipe e desenhos de aquarelas idênticos aos do livro. Aliás, até a caligrafia dos textos é uma réplica da letra de Saint-Exupéry, um dos muitos detalhes que mostram o capricho do diretor com a história.
Quando o aviador precisa de ajuda, a garotinha viaja em busca do Pequeno Príncipe e cai em um planeta desolador, onde as pessoas são como zumbis, com colorações opacas, olhos caídos e movimentos coreografados e impensados, que as levam do trabalho para casa, e de casa para o trabalho. Lá, ela encontra o personagem principal do livro, que, agora, também precisa ser lembrado dos poderes da inocência.
A cereja no bolo do filme são os momentos em stop-motion, inseridos durante a leitura do livro pela menina. A animação feita em papel é deslumbrante e reforça a elegância da produção que tem potencial para encantar espectadores adultos e crianças.