Com uma garrafa de vinho numa mão e uma taça na outra, Adele bebe e canta enquanto navega com uma boia em um rio — e ainda ostenta um vestido longo de paetês dourados. A cena nonsense abre o clipe da música I Drink Wine da cantora inglesa, lançado na quarta-feira, 26. Um dia antes, outra estrela pop protagonizou um videoclipe purpurinado: entoando a canção Bejeweled, Taylor Swift aparece primeiro como Cinderela, limpando o chão de uma casa, e depois pronta para uma festa, com direito a dança no estilo pin-up dentro de uma taça de espumante gigante.
A cafonice aparente de ambos os clipes possui uma ironia ao fundo. De símbolos sexuais inocentes e certinhas, as cantoras pop agora riem de si mesmas, enquanto ironizam o luxo que as cerca, o qual flerta sem medo com o brega. Esse sarcasmo não é novidade no pop, que o diga Katy Perry, por exemplo, mas a adesão de Adele e Taylor ao estilo é sintoma de uma virada em andamento no modo como essas artistas querem ser vistas.
Diva da sofrência chique, Adele protagonizou clipes dramáticos ao longo de sua carreira – em Hello, um dos mais populares, ela canta sobre o fim de um romance em cenários abandonados e com um filtro verde melancólico. Agora, enquanto navega com uma boia por um rio, ela flerta com pescadores, canta entre atletas de nado sincronizado, e, depois que joga a garrafa de vinho na água, do nada, uma mão surge com a mesma garrafa para servi-la quando sua taça fica vazia. Taylor já vem há um tempo optando pelo cômico em detrimento da sensualidade banal. Em Bejeweled ela ainda aproveita para cravar seu lado feminista: ao fim, a Cinderela fica com o castelo, mas dá um pé no príncipe.