A KGB, agência de inteligência da União Soviética, sempre esteve presente no imaginário ocidental como sorrateira e perigosa, pronta para eliminar inimigos com a ajuda de artefatos discretos e mortais: uma arma disfarçada de tubo de batom ou uma agulha envenenada escondida no guarda-chuva. Fora eventuais exageros de filmes de espionagem, é praticamente tudo verdade. Pois, agora, cerca de 3 000 itens da estatal soviética, que esteve em operação de 1954 a 1991, serão leiloados pela americana Julien’s Auctions, presencialmente e on-line, no dia 13 de fevereiro.
A coleção faz parte do acervo do Museu de Espionagem da KGB, em Nova York. Inaugurado em janeiro de 2019 pelo lituano Julius Urbaitis, precisou fechar as portas definitivamente devido à crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. Todos os itens pertencem a Urbaitis, que, ao longo de três décadas, montou a maior coleção do mundo de memorabilia da KGB e da Guerra Fria. Além de itens originais e réplicas exclusivas, o museu oferecia espaços interativos, como um modelo de cadeira usado para interrogatórios e a recriação do espaço de trabalho de um oficial. As exibições ainda explicavam como os agentes da Inteligência realizavam sua vigilância, incluindo embutir dispositivos de gravação em abotoaduras e até esconder câmeras em fivelas de cinto. “Existe uma visão exótica da KGB no contexto da Guerra Fria no Ocidente. Adquirir esses itens é uma forma de colecionar um momento importante da história”, afirma o historiador Victor Missiato, professor do Colégio Mackenzie Brasília.
Quase toda a coleção estará aberta a lances em mais de 400 lotes, com valores que podem chegar a 12 000 dólares. Os destaques incluem uma bolsa com câmera escondida, uma máquina de cifragem de código conhecida como Fialka, capaz de produzir milhões de combinações, e uma porta de aço de prisão. Também estão à venda uma placa de aviso de “área infectada”, usada para sinalizar zonas radioativas ou assoladas por doenças, e até uma carta assinada por Fidel Castro detalhando suas esperanças de se infiltrar em Havana durante a Revolução Cubana na década de 50. Para quem estudou o período, são itens imperdíveis, mas recomenda-se que as armas adquiridas fiquem trancadas a chave.
Publicado em VEJA de 20 de janeiro de 2021, edição nº 2721