A reação do Louvre ao escândalo do tráfico de relíquias egípcias
Museu francês abrirá ação civil para investigar diretor suspeito de ser cúmplice na compra de obras saqueadas no Egito durante Primavera Árabe
Após Jean-Luc Martinez, ex-diretor do Louvre, ser acusado de ter participado de um esquema de tráfico de antiguidades do Egito, o museu francês iniciará uma ação civil para investigar o caso. Em comunicado oficial enviado à imprensa, a instituição reforçou o “compromisso máximo, inabalável e contínuo de seus especialistas científicos na luta contra o tráfico ilícito de obras de arte”.
Martinez, que dirigiu o Louvre de 2013 a 2021, tornou-se suspeito de participar do esquema de tráfico após ser interrogado sobre obras que as autoridades desconfiam ter sido saqueadas durante a Primavera Árabe, entre 2010 e 2012. Aberto em 2018, o caso diz respeito a peças compradas pela filial do museu em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Martinez é acusado de ter sido cúmplice na ocultação da origem de uma peça de granito rosa que retrata o faraó Tutancâmon e outras quatro obras históricas, compradas por 8 milhões de euros e que as autoridades suspeitam que foram contrabandeadas. O ex-diretor do museu nega veementemente todas as acusações e, através de seu advogado, Francois Artuphel, expressou confiança de que será “completamente inocentado”.
Segundo fontes próximas à investigação, autoridades francesas vão a Nova York ainda esta semana com o intuito de ouvir depoimentos de várias testemunhas, incluindo representantes do Metropolitan Museum of Art . O objetivo é trocar informações com Matthew Bodganos, chefe de investigação de tráfico de antiguidades do Ministério Público, responsável pelas apurações que levaram à devolução para o Egito de um sarcófago dourado comprado pelo museu. De acordo com o jornal investigativo Canard Enchaine, os especialistas franceses que legitimaram essa peça são os mesmos que certificaram o sarcófago comprado pelo Louvre de Abu Dhabi. Um deles, Christophe Kunicki, foi acusado há dois anos em Paris por conspiração criminosa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Roben Dib, gerente da Galeria Dyonisos em Hamburgo e apontado como cúmplice, está detido em Paris desde março sob as mesmas acusações.