Reportagem desta edição de VEJA comenta a nova temporada de House of Cards, que chega na terça-feira 30 à Netflix. Em seus novos episódios, a série protagonizada por Kevin Spacey como o presidente americano Frank Underwood e Robin Wright, no papel da primeira-dama Claire Underwood, revela-se mais próxima que nunca da política dos Estados Unidos — e do Brasil. E isso só torna as maldades dos Underwood mais mesmerizantes. Um discurso do presidente fictício de House of Cards chega a lembrar, no estilo confrontacional próprio de quem se vê acuado, um trecho muito citado da entrevista do brasileiro Michel Temer ao jornal Folha de S.Paulo: “Se quiserem, me derrubem”. House of Cards fareja de longe o que move a política e os políticos de todo tempo e lugar. Com suas correspondências irresistíveis com a realidade, recomenda-se uma dose de voyeurismo sádico e outro tanto de espírito aberto para aprender sobre a Realpolitik ao se deve degustar a quinta temporada da série da Netflix.
Espertamente, a plataforma de streaming explorou as similaridades entre a série e a barafunda brasileira em uma peça promocional: dizia que até os pérfidos Underwood andam com dificuldade para competir com os escândalos de Brasília. É falsa modéstia. Ainda que tome liberdades ao retratar um casal presidencial capaz de matar (literalmente), House of Cards é mais bem roteirizada do que Brasília. Oferece um compêndio preciso das piores vicissitudes da política. Conchavos entre governantes e empresários corruptos, manipulações da lei e da opinião pública, acobertamento e invenção de fatos e, claro, escândalos detonados por grampos e vídeos: diante de todo o arsenal de sujeira usado pelos Underwood (ou contra eles), o espectador brasileiro tem a sensação de que já viu esse filme. Para além do casal protagonista, vale prestar atenção na galeria de tipos da fauna universal do poder. Alguns deles, como o presidente russo Viktor Petrov ou o hacker Aidan Macallan, são descaradamente inspirados em figuras reais – Vladimir Putin e Edward Snowden. Mas não é difícil detectar até um equivalente de Marcelo Odebrecht na série.
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