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A moda do cabelo no estilo angelical ganha força entre os homens

Nascido na década de 60, o corte que remete à imagem do bom-moço volta a agradar os rapazes das novas gerações

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h10 - Publicado em 27 nov 2020, 06h00
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  • Como tudo o que eles cantavam era o amor, e pouca coisa a mais, soava natural que os cortes de cabelo no estilo angelical apresentados ao mundo pelos Beatles, perto da primeira metade dos anos 1960, logo virassem sinônimo de bom-mocismo — antes, portanto, do sexo, drogas & rock’n’roll. Batizados então de moptop, termo para “cabeça de esfregão”, a moda exibia franjinhas simétricas de comprimento médio, por vezes penteada para o lado, e fios um pouco abaixo das orelhas. E não é que neste estranho 2020 o antigo desenho voltou à moda? Artistas jovens como os cantores canadenses Justin Bieber e Shawn Mendes, o britânico Harry Styles (leia na pág. 88), além de Kim Tae-hyung, do estrondoso grupo de K-pop BTS, ressuscitaram o penteado — que agora é chamado angelicalmente de querubim.

    É praticamente impensável mencionar alguma tendência deflagrada neste ano sem ressaltar as quarentenas que comprometeram o cotidiano. E é exatamente isso o que aconteceu. Por longos meses foi impossível ir a um bom cabeleireiro para manter as madeixas em ordem e muita gente foi obrigada a abrir mão da manutenção. As cabeleiras vicejaram e deu no que deu, o renascimento daquele jeitão sessentista.

    “Entre os adolescentes a moda pegou de vez, mas tenho também clientes adultos, do rígido mercado financeiro, que adotaram esse estilo”, diz o cabeleireiro Marcos Proença, dono de dois concorridos salões em São Paulo. É possível, contudo, que mesmo sem o distanciamento imposto pelo vírus o fenômeno se espalhasse. A explicação: ele está associado aos desejos das gerações de agora de romper com os conceitos convencionais sobre masculinidade, comuns nos tempos de seus pais e avós. O guarda-roupa dos homens mais jovens permite um estilo de ser e de se vestir até pouquíssimo tempo atrás considerado mais feminino. Para essa turma, ser bad boy está totalmente fora de moda, daí o aceno para o ar ingênuo. Para além dos cabelos graciosos, veem-se as novas coleções que exibem rapazes usando roupas com estampas coloridas, tecidos de acabamento brilhante e colares de pérolas sem perder um pingo de virilidade. “Eles entendem a masculinidade de uma forma mais permissiva, sem necessidade de se exibir como macho o tempo todo”, diz Marcio Banfi, professor do curso de design de moda da Faculdade Santa Marcelina.

    E assim caminha a humanidade. Os homens usam o que lhes vai no couro cabeludo para comunicar alguma coisa desde que o mundo é mundo. A exuberância dos fios na Grécia Antiga era um método de diferenciação da elite dos escravos, que tinham a cabeça raspada. A lógica se inverteu em meados do século V, com a popularização das atividades atléticas, atrapalhadas pelas generosas cabeleiras. Os querubins de 2020 vieram agora para trazer um recado muito nítido e saudável: a leveza no jeito de ser faz sempre bem, e não significa fraqueza. Que assim seja.

    Publicado em VEJA de 2 de dezembro de 2020, edição nº 2715

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