Direto ao ponto, com a clareza das obras de Andy Warhol (1928-1987), pai da pop art: uma das cinco versões da serigrafia Shot Sage Blue, o retrato estilizado de Marilyn Monroe pintado em meados dos anos 1960, é a obra de arte americana mais cara do século XX a ser leiloada. Ela foi ao martelo, segunda-feira 9, na Christie’s de Nova York, por 195 milhões de dólares, o equivalente a 1 bilhão de reais. O comprador não foi revelado. Desbancou a pintura de um crânio assinada por Jean-Michel Basquiat, de 1982, vendida por 110,5 milhões de dólares. Só perde em valor, na comparação com trabalhos feitos fora dos EUA a partir de 1900, para Interchange, do holandês Willem de Kooning, de 1955, vendido por 300 milhões de dólares. Vale o que vale — embora muitos acreditassem que pudesse bater 400 milhões de dólares — por ser Marilyn, por ser Warhol e pela lenda que o cerca. Em 1964, uma mulher armada com uma pistola entrou no estúdio Factory, onde Warhol trabalhava, e atirou em uma pilha de quatro telas com o rosto da loira platinada — daí o título “shot” (tiro, em inglês). A versão leiloada não tinha marcas do projétil, mas atraiu a aura de suas irmãs. “Quando pensamos nas imagens mais icônicas da história da arte, pensamos na Mona Lisa, de Da Vinci, e em O Nascimento de Vênus, de Botticelli. Esta é da mesma linhagem, imagem icônica da segunda metade do século XX”, disse Johanna Flaum, chefe de arte pós-guerra e contemporânea da Christie’s ao Los Angeles Times. “E, de uma forma muito warholiana, foi reproduzida interminavelmente.”
Publicado em VEJA de 18 de maio de 2022, edição nº 2789