Há 460 anos, em 1564, nascia, no Reino Unido, William Shakespeare, o mais célebre dos escritores. Autor de clássicos como Romeu e Julieta e Hamlet, o inglês é um marco inquestionável na literatura, e atrai, até hoje, milhares de curiosos para o seu túmulo na Igreja da Santíssima Trindade de Stratford-upon-Avon, sua cidade natal. Morto em 1616, aos 52 anos, ele teria escrito o epitáfio que adorna seu túmulo, “amaldiçoando” qualquer um que atrapalhe seu descanso eterno. “Bom amigo, pela graça de Jesus, evite cavar a poeira aqui enclausurada. Abençoado seja o homem que poupar estas pedras e maldito seja aquele que mover meus ossos”, diz o texto encravado na lápide.
Morto, provavelmente, por uma febre contraída em uma noite de bebedeira com amigos, Shakespeare teria escrito a frase com medo de que o túmulo fosse remexido por curiosos, já que furtos de sepulturas eram recorrentes naquela época. Também era comum que corpos fossem exumados para fins de pesquisa ou para abrir mais espaço para outros sepultamentos. Até recentemente, o desejo do escritor parecia ter sido atendido: a igreja tem regras estritas sobre a sepultura, e nem mesmo os funcionários que realizaram uma reparação no local em 2008 ousaram mover a lápide e perturbar o descanso do dramaturgo.
É possível, porém, que a maldição tenha sido testada por corajosos desnaturados: isso porque, uma varredura conduzida em 2016 na sepultura através de radiofrequência revelou que o túmulo parecia alterado, e o crânio do bardo pode ter sido roubado. A descoberta — detalhada no documentário Shakespeare’s Tomb, do Channel 4 — fortaleceu uma história antiga, até então descreditada: em 1879, uma revista chamada Argosy Magazine alegou que a tumba de Shakespeare fora violada em 1874 por um grupo de saqueadores que teria roubado o crânio do escritor a pedido de um colecionador. A história pode até ter um fundo de verdade, mas detalhes rocambolescos são descartados por estudiosos.
Além dos restos mortais do dramaturgo, o DNA do bardo também levanta curiosidades. Em 2019, a Folger Shakespeare Library, que guarda a maior coleção do autor, testou uma Bíblia de 400 anos que teria sido manuseada por ele e identificou genes de dois europeus — um deles, concluíram, era de alguém com tendência a ter espinhas. Para saber se o DNA acneico é ou não realmente de Shakespeare, será preciso identificar seus descendentes e testá-los. A exumação do corpo, no entanto, não é uma possibilidade: graças à lápide ameaçadora, a morada de Shakespeare segue lacrada, guardando debaixo da terra todos os seus mistérios e genialidade.