A atriz Búlgara Maria Bakalova tinha apenas 10 anos de idade quando, em 2006, os cinemas foram chacoalhados por Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América. O filme satírico inovador, rodado como um pseudodocumentário e protagonizado por Sacha Baron Cohen, o Borat do título, não poupava os Estados Unidos de uma imensa lista de alfinetadas nada indiretas. O que já era chocante ficou pior (ou melhor) na sequência Fita de Cinema Seguinte de Borat, lançada pelo Prime Video, da Amazon, no ano passado. Com a missão de evidenciar os absurdos da ala extremista de seguidores do ex-presidente Donald Trump, Cohen dividiu os holofotes com a jovem búlgara de 24 anos em uma trama de leve tom feminista. Hipnotizante, a atriz trouxe frescor e uma pitada de doçura ao filme, sem deixar de lado o tipo de comédia que Cohen faz há vinte anos — técnicas que ela teve de aprender em semanas. O resultado: Maria Bakalova abocanhou uma rara indicação ao Oscar — que prefere dramas a comédias — de melhor atriz coadjuvante, concorrendo com as veteranas Glenn Close e Olivia Colman.
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Para viver Tutar, filha de 15 anos de Borat, Maria ganhou peso e parou de se depilar. “Eu ia para a piscina e todos olhavam”, conta ela a VEJA sobre as gravações na calorenta Los Angeles, exibindo seus vastos pelos corporais. Tutar passa por uma transformação enquanto é preparada como um presente de Borat aos republicanos — farpa sobre o gosto de Trump por “novinhas”.
Na cena mais controversa, Tutar entrevista Rudolph Giuliani, aliado do ex-presidente. Após a conversa, em um hotel, a câmera registra Giuliani abrindo o zíper da calça no quarto onde Maria está. A cena é interrompida por Borat: “Ela tem 15 anos, é muito velha para você”, diz, ao tirá-la dali antes da chegada da polícia. Em sua defesa, Giuliani afirmou que tirava o microfone da roupa.
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A atriz conta que teve medo da cena, mas, confiando na parceria com Cohen, foi até o limite. “O filme mostra o desrespeito inaceitável que mulheres ainda sofrem.” Ela já provara ter coragem para encarar desafios no teste para o papel. Desbancando outras 600 candidatas, a garota que sonhava desde a infância com um lugar em Hollywood improvisou, reagindo a objetos comuns como se nunca os tivesse visto (como um ar-condicionado). Chegou a comer um peixe saído direto do aquário.
Antes de Borat, Maria atuou em produções búlgaras e depois da Dinamarca, para onde partiu atrás de espaço no cinema. “Os papéis para pessoas do Leste Europeu geralmente são de prostitutas ou criminosos”, brinca. Hoje, em Londres, ela filma uma comédia para a Netflix com Karen Gillan (Jumanji) e Pedro Pascal (Game of Thrones). Sobre a dificuldade de, finalmente, chegar à panelinha de Hollywood, Maria celebra: “Somos muitos talentos ocultos na Bulgária. Se eu cheguei aqui, outros também podem”.
Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734
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