Xuxa: “Quando falam que estou velha, digo que sei. Tenho espelho em casa”
Apresentadora completou 60 anos e diz que já sofreu com o etarismo, mas aprendeu a ignorar a cobrança e hoje encara o envelhecimento em seus próprios termos

Xuxa Meneghel se consolidou no mundo do entretenimento como um grande campo gravitacional, atraindo todas as atenções e vivendo boa parte da vida sob os holofotes. Tem uma trajetória marcada por grandes conquistas. Recebeu dois prêmios Grammy, atuou em mais de 20 filmes, apresentou 16 programas, vendeu mais de 50 milhões de discos e, nos anos 1990, figurou na lista da Forbes de celebridades mais bem pagas do mundo.
Agora, a atriz e apresentadora chegou aos 60 anos celebrando a longa carreira, mas de olho nos próximos projetos. E faz isso com a sabedoria de quem aprendeu a lidar, ou ignorar, os haters. Recusando a busca pela juventude eterna, ela fez as pazes com o envelhecimento e se tornou um dos nomes mais combativos contra o etarismo e a cobrança demasiada sobre as mulheres.
Você já sofreu com o etarismo?
Eu acho que isso, na realidade, é quase que normal. Comecei trabalhando com minha imagem aos 16 anos. É assim com a Luiza Brunet, seria assim com a Marilyn Monroe, se ela estivesse viva. É assim com Madonna, com a Brigitte Bardot, que sempre cobraram muito dela por uma série de coisas. Pra mim não seria diferente. A cobrança maior não é do público, é minha mesmo. Quando me olho no espelho, digo ‘puxa vida, não é que está chegando, chegou: estou velha’. Tenho que conviver com isso. Todo mundo precisa conviver com a falta de colágeno, com as rugas, as mudanças do corpo. Tem que aceitar. Eu passei uma fase mais cedo que me deu uma pirada. Fiquei pensando se fazia esse procedimento ou aquele. Aí pensei que não gostaria de entrar nessa roda-viva, porque isso meio que vicia. E não estou enganada. Vejo muita gente que começa a fazer procedimentos estéticos e não para mais. A única coisa que me passa pela cabeça é “espero que ela esteja se sentindo bem”. Porque deve ser muito desagradável fazer tudo aquilo e dizer que não gostou do resultado. Nós, que estamos do outro lado, que estamos julgando, temos que nos colocar no lugar da pessoa. Ela está feliz como está? Então beleza. Não quer dizer que não possamos olhar pra uma foto nas nossas casas e dizer, puxa, não gostei dessas bochechas, ou dessa boca, ou das rugas. O que não é legal é as pessoas irem a público e desrespeitar, ofender aqueles que não querem fazer um procedimento ou que fizeram algo que não agradou o público. Isso não é legal. As pessoas precisam entender que nós lidamos com a nossa imagem diariamente e somos nós que temos o direito de fazer o que a gente quer, as pessoas gostando ou não. Somos nós que decidimos fazer ou não fazer algo. E isso não dá o direito de as pessoas ofenderem a gente. Esse é o ponto de equilíbrio que está faltando entre as pessoas.
Você se sente cobrada pela aparência?
Dependendo da foto que publico, me sinto sim. Já me senti bem mais do que agora. A primeira vez que tirei uma foto na praia, sem maquiagem, sem nada, as pessoas criticaram bastante. Diziam que eu tinha dinheiro, que eu devia me cuidar, botar botox, fazer um monte de coisa. Fiquei pensando muito naquilo. Aquelas pessoas não têm um nome, muitas delas nunca vão ter. Elas só têm aquele pequeno pedaço para me ofender, e se eu responder elas vão ganhar mais espaço. Essas pessoas não têm nenhuma luz virada pra elas, como eu tenho virada pra mim diariamente, e isso é muito ruim. Tentei me colocar no lugar delas. E vi que são pessoas que querem aparecer e não conseguem. Deve ser uma frustração muito grande para elas. Porque, no nosso país, dizer que aquele cara está velho é uma ofensa. Quantos não dizem “olha aquela velha botando as pernas pra fora”. É uma ofensa.
O etarismo está mais grave agora?
Eu acho que é um negócio que sempre existiu. Mas hoje em dia, por conta de tantos procedimentos estéticos, as pessoas estão ouvindo mais ou menos, dependendo do quanto elas mexem no corpo. Quem fez e agradou ao público ouve que ela está se cuidando. Mas aquela que diz que não quer fazer, talvez só uma limpeza de pele, como eu faço, ou faz ginástica ou visita dermatologistas, pode ouvir mais. Há uma cobrança de fazer um puxa lá dá cá. Posso até vir a fazer, mas não pela vontade dos outros, mas pela minha. Já sofri? Já. Mas agora acho que caiu minha ficha que tenho que sentir pena dessas pessoas porque o que elas querem é aparecer. E não vão conseguir, pelo menos comigo. Quando elas falam que estou velha, eu digo: eu sei. Eu tenho espelho em casa. Sei que tenho ruga. Quando dizem que eu poderia fazer alguma coisa, digo que sei. Eu faço o que eu posso e o que eu quero. E o que devo fazer, o que acho que devo fazer. Já passei por várias fases disso. Mais importante é ter alguém do meu lado que me olha e diz: “Nossa, que bunda linda, que corpo lindo, que rosto lindo”. E que gosta de mim do jeito que sou.