Os sons melancólicos da gaita de foles que ecoaram no começo da semana nos jardins do castelo Drummond Gardens, em Perthshire, na Escócia, lembraram uma passagem de The Crown, quando a Rainha Elizabeth II (interpretada por Imelda Staunton) pede ao tocador do tradicional instrumento para que execute sua canção favorita (e que seria tocada em seu funeral).
A música e o cenário cinematográfico de 1409, porém, eram para outra finalidade: o desfile da Dior, que apresentou a coleção Cruise 2025, inspirada em outra rainha, ancestral da monarca britânica: Mary Stuart (ou Maria I), que reinou na Escócia até 1567 e, vinte anos depois, foi executada por decapitação, após supostamente tramar o assassinato de sua prima, a rainha Elisabeth I, da Inglaterra. Segundo relatos históricos, na ocasião, ela teria usado um vestido vermelho escuro, a cor dos mártires católicos, mas que no desfile se referiam mais ao tom favorito para os tartan – tecidos xadrez usados nos kilts escoceses.
Além do vermelho, no entanto, o xadrez surge em tons de azul escuro, roxo, amarelo e verde, nos vestidos, saias, blusões, boleros, meias e, claro, nos kilts – a própria estilista da Dior, Maria Grazia Chiuri, apareceu vestindo um modelo longo e pregueado, mas com ar moderninho, graças aos vários bolsos.
O cross entre o vintage e o contemporâneo também ganha força nas combinações entre peças ultrafemininas e elementos utilitários, representadas principalmente pela mistura de tweeds, rendas em tons pastel e golas vitorianas a cintos e bolsas de couro preto, botas pesadas e joias de correntes.
A conexão com a Escócia vem ainda em fotos estampadas em roupas e bolsas, que retratam o próprio Christian Dior em dois desfiles que fez no país na década de 1950: um durante um baile beneficente no hotel Gleneagles, e outro, no Grand Central Hotel, em Glasgow.
Rainha feminista
Já as referências a Mary Stuart – como rainha e prisioneira – são evidenciadas em tecidos nobres, rendas e bordados, inspirados na biografia “Embroidering the Truth”, escrita por Clare Hunter, e em palavras como “difícil”, “doloroso” e “histérica” bordadas nos espartilhos brancos, símbolos da repressão feminina, mas que, na Dior, caminhavam livremente pelos jardins do castelo renascentista, que recebeu Anya Taylor-Joy, Jennifer Lawrence, Lily Collins e Rosamund Pike na primeira fila do desfile.
“O livro de Clare Hunter é fascinante na maneira como explica a experiência de Mary Stuart na prisão com as suas damas de companhia e como ela usa seus bordados e costura para expressar suas posições e opiniões”, disse Maria Grazia, durante entrevista. “Ela era uma feminista”, completou.
A saber, Mary Stuart virou rainha da Escócia aos seis dias de idade, quando o seu pai morreu logo após o seu nascimento. Aos 16 anos, se casou com o rei Francisco II, da França, tornando-se rainha consorte. Um ano depois, após a morte do monarca, ela voltou à Escócia, onde foi presa e decapitada em 1587.
Confira fotos do desfile Cruise 2025 da Dior