Diz o dito popular: a vingança é prato que se come frio. No caso da princesa Diana (1961-1997), porém, deu-se o avesso. Ao saber que o príncipe Charles, de quem já estava separada, daria uma entrevista na televisão admitindo a traição com Camilla Parker-Bowles, ela resolveu subir a temperatura, e como. Em sua primeira aparição depois do rompimento, em uma festa promovida pela revista Vanity Fair, na Serpentine Gallery, em Londres, trocou de última hora um discreto modelo de gala Valentino por um ousado vestido de chiffon preto, com as pernas à mostra e um enorme decote de ombro a ombro, da designer grega Christina Stambolian. Uau, uau e uau! Trinta anos depois daquela noite de verão, 29 de junho de 1994, o espanto ainda ecoa. Diana estampou todas as primeiras páginas dos jornais ao redor do mundo, declarando independência da realeza e do próprio futuro rei, relegado a segundo plano.
Do mercurial episódio nasceu o “vestido da vingança”, o mais famoso dos trajes de nosso tempo, leiloado na Christie’s em 1997 por 52 000 euros, em prol de instituições de caridade de combate e prevenção ao câncer e à aids. “Ela queria ter a aparência de 1 milhão de dólares”, disse sua antiga stylist, Anna Harvey. “Conseguiu.” Sim, a elegância virou ícone fashion, inaugurou uma tendência indelével, mas o que valeu mesmo foi o manifesto de resistência — o grito sensual de liberdade de uma mulher de sangue vermelho presa ao sangue azul.
A icônica aparição, é claro, foi retratada em um episódio da quinta temporada da série The Crown, da Netflix, intitulada, não à toa, como “O que vem pela frente”. E o que viria está aí, diante de nossos olhos, fonte de inspiração para outras mulheres famosas, que passaram a apostar em modelitos provocantes depois de traições, da covardia dos companheiros. A lista de exemplos posteriores ao de Diana é longa. No início do ano, Miley Cyrus despontou esvoaçante no Grammy para cantar Flowers, sobre o fim de seu relacionamento com Liam Hemsworth. O que ela queria dizer: você não sabe o que está perdendo. Mariah Carey usou arma de calibre equivalente ao aparecer em um conjunto de saia e top cropped no MTV Music Video Awards em 1997, após a separação do executivo da Sony Music, Tommy Mottola, que, além de abusivo, tinha controle sobre sua imagem desde o lançamento de seu primeiro álbum.
Naquela ocasião, como ocorrera com Diana em meados dos anos 1990 e agora com Miley, a roupa virou símbolo da emancipação. Estrelas da música, aliás, dada a visibilidade e a ribalta nos palcos, são as mais adeptas a gritar pelo vestuário. Shakira usou um espetacular vestido preto no Festival de Cannes, em 2022, depois do escândalo da traição do jogador de futebol Gerard Piqué, que acabou em barulhento divórcio. “Quando uma mulher passa por essa situação, espera-se que fique abalada e desestruturada”, diz a psicóloga Monica Machado, pós-graduada em psicanálise e saúde mental pelo Instituto Albert Einstein. “Mas a raiva ou sentir-se ‘trouxa’ pode despertar um empoderamento que nem ela acreditava ter.” Quando as triangulações envolvem supercelebridades, sai de baixo. Jennifer Aniston, ao ser trocada por Angelina Jolie, quando era casada com o astro Brad Pitt, tirou sua melhor versão do armário na forma de um vestido curto da Chanel, em outubro de 2005. Deu o que falar, e ainda dá.
Em vez de expor vulnerabilidade, muitas mulheres decidem inovar o visual com cortes de cabelo e procedimentos estéticos. Mas a roupa ainda é a melhor saída, ao menos entre as estrelas, que terão sua imagem rodando o mundo. Uma das histórias mais curiosas de vestidos de vingança gira em torno da modelo Bella Hadid. Depois da separação do rapper The Weeknd, ela cortou o cabelo e ofuscou a aparição do ex com a nova namorada, Selena Gomez, no Met Gala de 2017, usando um macacão transparente assinado por Alexander Wang. Em outubro daquele ano, no entanto, foi a vez de Selena apelar para o recurso após o término com o próprio The Weeknd, usando um minivestido preto da grife Jacquemus. Diana estava certíssima: na hora da vingança, quanto mais quente, melhor. Fica a dica, e que o rei Charles III não bobeie.
Publicado em VEJA de 12 de julho de 2024, edição nº 2901