O mar de referências, inspirações e riqueza de detalhes do figurino de Wicked
Bruxas Elphaba, de Cynthia Erivo, e Glinda, de Ariana Grande, têm peças elaboradas com materiais que vão de casca de árvore a diamantes
Ao final do primeiro ato de Wicked – o filme será dividido em duas partes, a primeira a ser lançada nesta quinta-feira, 21, e a segunda, em 2025 – o Mágico de Oz diz: “Eu sei, é um pouco demais.” Nesse momento, as bruxas Elphaba, de Cynthia Erivo e Glinda, interpretada por Ariana Grande, espiam por trás da cortina na Cidade Esmeralda. Ele sorri, e completa. “Mas as pessoas esperam mesmo esse tipo de coisa!.”
É claro que essas palavras fazem parte do contexto do esperado filme da Universal Pictures, que conta a história das bruxas de Oz e sua complexa conexão antes de Dorothy. Mas caberiam como uma luva se tentarmos definir a grandiosidade do figurino assinado pelo premiado Paul Tazewall.
Segundo ele, figurinista vencedor do Tony e do Emmy, e indicado ao Oscar pelo filme “Amor, Sublime Amor”, de Steven Spielberg, só um dos vestidos usados por Ariana Grande, costurado a partir de 20 mil contas bordadas no corset, precisou de mais de 225 horas para ficar pronto. Agora imagine esse tempo para um acervo de mais de mil peças? E que, não à toa, levou quase dois anos para ser concluído?
Poderosos e elaborados
A maioria das peças, obviamente, não levaram todo esse tempo, mas é fato que alguns dos vestidos e itens mais icônicos precisaram de uma atenção especial do figurinista, que contou com o apoio de mais de 100 pessoas, entre alfaiates, costureiros de alta costura, tecelões, modistas, bordadeiras, artesãos de feltro, tricoteiros, sapateiros, armeiros, joalheiros e especialistas em impressão 3D e manipulação a laser, trabalhando simultaneamente, em oito ateliês diferentes.
Um exemplo é o famoso vestido rosa de bolha de Glinda. Cuidadosamente elaborado, foi feito a partir de uma silhueta escultural, que exigiu um suporte específico, mas sem adicionar peso. A combinação de crinolina com camadas de organza de seda, estampadas com um padrão de bolhas e adornadas com cristais e lantejoulas iridescentes precisou de técnicas de engenharia, assim como o corpete decorado com espirais de cristais e decote em forma de borboleta.
“Trabalhei com um alfaiate em Londres para criar uma forma escultural em tecido rosa iridescente que flutua e reflete a bolha em que Glinda chega a Munchkinland”, contou Tazewall à revista Forbes internacional. “A inspiração original para o vestido de bolha remete à Glinda do filme de 1939, O Mágico de Oz, desenhado por Adrian e usado por Billie Burke. Adotei o mesmo tom de rosa, usado em toda a paleta de cores de Glinda”
Ariana Grande teve seu figurino pensado até nos acessórios e na roupa de dormir. O penhoar cor de rosa da Bruxa Boa, por exemplo, teve inspirações em Hollywood, com tule estampado em formas circulares, detalhes em babados, seda bordada e chinelos de cetim. Já sua coroa é coberta de diamantes.
Os trajes de Elphaba não ficam atrás. O vestido da Bruxa Má do Oeste, de ombros marcantes e cintura marcada, é um dos favoritos do Tazewall. “É feito de chiffon com micropregas aplicadas em um padrão ondulante. De longe, parece veludo, mas, ao se aproximar, percebe-se um padrão texturizado que envolve o corpo dela”, descreveu.
Outro elemento icônico da personagem de Cynthia Erivo é o chapéu, baseado no clássico símbolo cultural da bruxa. “Pude reformulá-lo para incluir um forte elemento narrativo”, disse o figurinista. “Parte da ideia veio da sugestão do diretor Jon Chu em começar o filme com uma cena à distância focada no chapéu, que se aproximaria gradualmente. De longe, parece uma montanha, até chegar perto e ver que se trata do chapéu, que ainda carrega um simbolismo de poder para Elphaba, que quando o coloca, se transforma”, completou.
Provas Diárias e Saltos Altíssimos
Com inspirações e referências no livro “Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West”, de Gregory Maguire, de 1995; no espetáculo da Broadway, que foi transformado em livro por Winnie Holzman (também roteirista do novo filme) e nos fãs do musical, Tazewell trouxe fortes elementos que remetem à terra, principalmente por meio dos vestidos de silhuetas sóbrias e luto vitoriano de Elphaba; e ao ar, com as peças fluidas de Glinda, em motivos etéreos como asas das borboletas e a espiral de Fibonacci.
Sem contar os tantos outros figurinos criados para os outros personagens – da sábia diretora da Universidade Shiz, Madame Morrible, interpretada pela vencedora do Oscar, Michelle Yeoh; ao interesse amoroso de ambas, Fiyero, de Jonathan Bailey, passando pelo próprio Mágico de Oz, de Jeff Goldblum. Por conta disso, eram necessárias provas de roupa diárias, tanto para ajustes como para se “criar o encantamento.”
“Eu precisava entender como essas pessoas queriam desempenhar esses papéis, observando a linguagem corporal e como elas se sentem na peça”, disse o figurinista à revista Hello! “Não posso criar no vácuo, meu trabalho tem que ganhar forma por meio dos por artistas.”
O único pedido tanto de Cynthia Erivo quanto de Ariana Grande eram saltos altíssimos. “Elas não são muito altas e os saltos, além de dar estatura, imprimia essa elevação, já que as personagens se tornam mais poderosas”, explicou Tazewell. Ele se coloca como um intermediário entre o artista e o personagem. “A sala de prova é um espaço sagrado, onde as pessoas podem se sentir vulneráveis”, finalizou.
O resultado, veremos nas telas. Mas pelas imagens e teasers divulgados, sabemos que será um figurino, no mínimo, fabuloso.
Veja alguns figurinos de Elphaba e Glinda, em “Wicked”: