O estilista que é o queridinho da vez de Madonna
Foi-se o tempo de Jean-Paul Gaultier. A cantora, com seu condão de catapultar estilistas, só quer saber de Guram Gvasalia
Desde o começo da carreira, no início dos anos 1980, Madonna, hoje com 65 anos, tinha um único e modesto objetivo: dominar o mundo. Deu certo. Estrela incontornável da música pop, ela se tornou uma das figuras de maior impacto na cultura popular de nosso agitado tempo. A estrada aberta pela diva, onde antes havia pouca coisa, é a mesma por onde hoje desfilam Beyoncé, Lady Gaga e Taylor Swift.
Não fosse Madonna, elas não existiriam para a fama. Sem Madonna, talvez não tivessem roupa para subir aos palcos. A intérprete de Like a Virgin intuiu, lá atrás, que o jeito de corpo era um grito. Esperta, se aproximou do estilista francês Jean-Paul Gaultier, de quem se tornou madrinha e farol. E quem há de esquecer do icônico bustiê em formato de cone de Blond Ambition, dos anos 1990?
Foi ali que a material girl ergueu (para nunca mais largar) a bandeira do feminismo e da libertação sexual. Gaultier, é claro, subiu ao Olimpo. Como a fila anda, e o tempo passa, Madonna — prestes a voltar a excursionar com pompa e circunstância — elegeu um novo queridinho para chamar de seu: o georgiano exilado em Paris Guram Gvasalia. Seu mote, madonniano: ele quer ser “o maior nome da moda”.
Diretor criativo e CEO da grife francesa Vetements, Gvasalia é da pesada. Inventivo, ele tem tino afinado para negócios. Na antessala do reconhecimento mundial, que certamente virá depois do início dos shows de Madonna na turnê Celebration, a partir de outubro, ele deu um jeito de postar e fazer circular uma foto ao lado da estrela no perfil de sua grife nas redes sociais. O truque: aproveitou o adiamento dos espetáculos depois de a cantora ter sido internada em decorrência de uma infecção bacteriana, e que naturalmente chamaria a atenção da galáxia, para crescer e aparecer. Afinal, quem era aquele homem do lado da rainha?
O nome do jogo de Gvasalia, de 42 anos, é ousadia, postura que o tirou das sombras do irmão mais velho, Demna Gvasalia, que fundou a Vetements em 2014, mas, desde 2019, responde pela prestigiada Balenciaga. Ainda que mantenha o brio na grife espanhola, o primogênito pena com as polêmicas recentes em torno de acusações de incitação à pedofilia em uma campanha da marca e denúncias de plágios.
O caçula, dado a modelos desconstruídos, de camisetas gigantes e jeans largos, emoldurados por joias em profusão, sacou a oportunidade, pediu espaço e pronto — fez de sua irreverência, associada à correção que o irmão parece não ter, atalho para a visibilidade. Chegou a hora dele (acompanhada, ressalve-se, por uma extensa coleção particular de relógios Patek Philippe e Audemars Piguet). Guram é tão responsável quanto Demna por transformar a loja francesa em um sucesso milionário, com 400 unidades espalhadas pelo globo e onipresente nas redes sociais. É movimento que explodirá, logo mais, de mãos dadas com Madonna, por óbvio, porque assim caminha a humanidade. “Desenhar os figurinos dela foi um grande privilégio e uma honra”, disse, com falsa modéstia. “Sinto que ainda há algo muito grande por vir. Agora é a minha vez.” O agora dele é para já. Faça um teste: procure uma fotografia de Guram em desfiles de Milão, Paris e Nova York. A chance de vê-lo na primeira fila ao lado de celebridades como Avril Lavigne e J. Balvin é de 100%. Vale o mantra do costureiro, que dorme depois das 5, trabalhando, e às 10 horas já acordou: “O bom não basta, é preciso o muito bom”.
Publicado em VEJA de 1º de setembro de 2023, edição nº 2857