Minissaias, que já eram mínis, subiram ainda mais no comprimento
O verão de 2023 promete ser mais quente do que nunca, ao menos em relação ao visual
Nos anos 1960, as minissaias saíram às ruas como um dos símbolos de rebeldia que marcaram aqueles tempos. Não demorou para ficarem cada vez mais curtas, tão curtas, mas tão curtas que, em uma brincadeira da época, se dizia que, não demoraria muito, virariam cintos. O modelo não se transformou em acessório, claro, mas está retornando como uma das tendências do verão de 2023.
Uma prévia do que está para aparecer quando as temperaturas subirem (no Hemisfério Sul logo mais e no Norte em meados de 2023) foi vista recentemente nas passarelas europeias e americanas. Como um manifesto por liberdade após dois anos de confinamento imposto pela pandemia da Covid-19, a estilista Miuccia Prada, da Miu Miu, vestiu suas modelos com microssaias muito acima dos joelhos.
Acompanhadas de blazers, remetiam a trajes sociais, em gesto de provocação irreverente ao evocar a volta aos ambientes de trabalho. O que se viu ali foi um ensaio para o momento atual, no qual a vida retomou a dinâmica de antes da crise sanitária, e, como era de esperar, com desejo acentuado de festejar o que deverá ser o primeiro verão após a tragédia do vírus. “Chegou a hora de mostrar o corpo novamente”, diz Manu Carvalho, consultora de moda.
A maioria das marcas entendeu o recado da Miu Miu. Stella McCartney, Lanvin, Versace, Valentino, Louis Vuitton, Coperni e até a Chanel, que outrora teve sua fundadora, Coco Chanel, como maior opositora — a estilista chegou a chamar as minissaias de ridículas e horríveis —, apostaram na onda, que pegou de vez. Na onipresente plataforma de vídeos TikTok, há mais de 356 milhões de visualizações para a hashtag #miniskirts e 289 milhões associadas a #minidress. Fotos como a da modelo Hailey Bieber, de intermináveis pernas de fora, estão entre as mais curtidas por seus 49 milhões de seguidores no Instagram.
Mas atenção, porque não vale tudo. O que se apresenta como minissaia ou minivestido são peças que ficam a um palmo acima do joelho. Sua criação divide historiadores da moda. Alguns a atribuem à moderninha e criativa Mary Quant, estilista inglesa que inaugurou a icônica loja Bazaar, em 1955, tornando-se sinônimo fashion da chamada Swinging London, a Londres fervilhante dos Beatles e dos Stones que consagrou ao mundo a febre cultural juvenil, a moda prêt-à-porter e, claro, o rock inglês. Outros, contudo, dão o crédito ao estilista francês André Courrèges, que popularizou o novo comprimento com seu design futurista. O fato é que rapidamente as minissaias passaram a ser marcas de estrelas de cinema como Brigitte Bardot e Jane Birkin, além da modelo Twiggy, símbolos da vanguarda sessentista. Nas versões atuais, o comprimento sobe para o meio da coxa, bem acima do que se viu nos anos 1960. Além disso, os modelos são mais arrojados, como o pretinho nada básico rasgado por uma fenda lateral adotado por Sabrina Sato. É de tirar o fôlego, até que suma de cena e, no futuro breve, retorne com pompa.
Publicado em VEJA de 26 de outubro de 2022, edição nº 2812