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Manuscrito medieval do século XV traz raízes da comédia ‘stand up’

Biblioteca Nacional da Escócia guardava em seus arquivos o texto de humor copiado por um padre

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 jun 2023, 18h18

Que o humor é uma das formas mais deliciosas de distração, ninguém pode negar. Fontes históricas sugerem que a tradição é antiga. Textos recém-descobertos na Biblioteca Nacional da Escócia, por exemplo, trazem informações sobre o repertório dos comediantes da Idade Média, os chamados menestréis. De zombar de reis e padres, principais figuras de autoridade na sociedade medieval, a encorajar o público a ficar bêbado, os escritos mostram que a arte de fazer rir com fina ironia tem raízes em um período chamado equivocadamente de sombrio.

Os textos fazem parte de um livreto conhecido como Manuscrito de Heege, e foram encontrados pelo medievalista James Wade, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. A tradição de escrita encontrada nesses registros pode ser vista até hoje em comédias de costumes, no stand up comedy e nas cenas pastelão ao estilo Didi Mocó, personagem que eternizou Renato Aragão. Os textos são carregados de autoironia e constantemente tornam o público alvo da piada. 

Durante a Idade Média, os menestréis foram artistas que viajavam e se apresentavam em feiras, tabernas e salões, entretendo pessoas com canções, poemas e histórias. Existem muitos menestréis fictícios na literatura medieval, mas um registro como o Manuscrito de Heege é extremamente raro e está entre as primeiras evidências a remeter a vida e a obra de um menestrel real.

Muito da poesia, música e narrativas medievais se perderam com o passar do tempo, sobretudo as manifestações culturais mais populares. É mais comum encontrar relíquias históricas referentes a formas de arte mais eruditas e elitizadas. Os escritos de Heege são ofensivos, desavergonhados e muitas vezes descorteses, mas extremamente valiosos ao informar mais sobre essa forma de arte. O texto evidencia que a comédia era uma atividade arriscada, sobretudo para aqueles que se desafiavam a zombar de todas as classes sociais, incluindo as mais poderosas

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As narrativas encontradas consistem em um romance burlesco rimado, intitulado A caça à lebre, um falso sermão em forma de prosa e um verso aliterativo chamado de A Batalha de Brackonwet. O mais irônico é que os textos foram copiados por volta de 1480, por Richard Heege, um padre que foi tutor de crianças de uma família rica de Derbyshire, um condado inglês com paisagens paradisíacas.

A caça à lebre é um poema sobre camponeses cheio de piadas, travessuras e situações absurdas. O sermão, por sua vez,  difere muito de suas inspirações religiosas, ao se dirigir ao público chamando-o de “criaturas amaldiçoadas”, além de incluir canções para beber. O texto também contém o primeiro uso registrado do termo “arenque vermelho”, quando três reis comeram tanto que 24 bois explodiram de suas barrigas, lutando com espadas; os bois esquartejam-se uns aos outros até ficarem reduzidos a três “arenques vermelhos”.

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