Extremos no altar: os vestidos pomposos e os justos brilham nos casamentos
Tendências opostas com um único intuito: a noiva sair bem na foto
A imagem clássica de uma mulher prestes a se casar evoca um modelito branco, comprido e com saia rodada, no mais perfeito estilo princesa. Não que a tradição vá ser deixada de lado, mas, dentro ou fora da igreja, os vestidos passam por uma metamorfose. Faz tempo que estilistas e desfiles buscam ousar nas peças para noivas. A verdade, porém, é que na vida real o figurino não fugia muito do convencional. Isso está mudando, especialmente sob a influência das redes sociais. O look clássico, mais conservador, não é mais prioridade entre quem vai botar uma aliança no dedo.
Nas plataformas visuais, como Instagram e Pinterest, abrem-se os feeds a uma série infinita de fotos e ideias de designers e celebridades, inspirando as futuras noivas e aproximando cada vez mais o casamento do eclético universo da moda. O resultado, surpreendente, é que vestidos antes vistos apenas em passarelas ou festas de artistas agora ganham outros altares. E, já que a ideia é quebrar tradições, a tendência é partir para o 8 ou o 80, apostando em peças maximalistas, com muito volume, ou, pelo contrário, em trajes translúcidos, que deixam boa parte do corpo à mostra.
Os consultores de moda têm uma explicação para tais escolhas. Ou melhor, duas. Primeiro: depois dos tempos árduos da pandemia, com cerimônias de casamento canceladas, agora é hora de celebrar, com mais liberdade e intensidade. E é sabido que recomeços trazem quebras de paradigmas. Então por que não começar pela roupa? A segunda razão reflete um comportamento que beira à obsessão nos dias de hoje: postar fotos e, claro, compartilhá-las. “Antes as noivas se vestiam para a família. Agora se vestem para o mundo”, diz Lethicia Bronstein, estilista que criou os modelos de atrizes como Camila Queiroz e Milena Toscano. “O vestido tem que ser o mais ‘instagramável’ possível. Muita gente vê nele uma oportunidade de aparecer.” É esquisito, mas é assim que a banda toca. E, se a regra é mostrar ao mundo todo o jeitão da noiva, nada como provocar.
E, então, de um lado brotam noivas com uma imagem dramática, ímã de cliques, ostentando saias hipervolumosas, mangas bufantes, tecidos de sobra ou tudo junto e misturado. Roupas que bebem dos anos 1980, simbolizados pelo vestido da princesa Diana, e atualizados em criações recém-desfiladas na semana de alta-costura de Paris, como mostram os estilistas Valentino e Giambattista Valli, e as obras suntuosas de Kate Halfpenny, da Halfpenny London, que brilharam na New York Bridal Fashion Week. De outro lado despontam os naked dresses, peças que usam e abusam de cortes curtos e transparentes. Eles invadiram o universo do casamento pelas mãos — ou melhor, pelas fotos publicadas e compartilhadas — de celebridades como a atleta olímpica Simone Biles, a socialite Kourtney Kardashian, que ainda dividiu todo o processo de montagem do seu vestido translúcido com seus 220 milhões de seguidores, e a herdeira do petróleo, Ivy Getty, cujo modelito assinado por John Galliano dava a ilusão de que ela estava livre, leve e nua sob um fino tecido. “Eu queria ter uma peça tão especial que se destacasse de tudo que já tinha visto antes”, disse a noiva na ocasião. Além de ousadia e sensualidade, o argumento para apelar à transparência — a despeito da opinião dos mais religiosos e conservadores — é que menos rendas sobre a pele evidenciam ainda mais a beleza feminina pelo efeito do contraste, o que, convenhamos, fica bem na foto.
Mas cabe um toque de cautela, tanto para quem usa pouco tecido como para quem se adorna com excessos: cuidado para o vestuário não virar fantasia. “A noiva deve se vestir dela mesma, com a sua personalidade, e tem que se reconhecer nas fotos dez anos depois”, diz a estilista Camila Machado. Se o amor deve ser eterno enquanto dure, imortal mesmo, como cantou Vinicius, e cheio de curtidas, o clique da noiva no altar é truque inescapável.
Publicado em VEJA de 31 de maio de 2023, edição nº 2843