Decisão judicial impede abertura de mostra sobre drags, em São Paulo
Ação movida por deputado estadual Gil Diniz, o "Carteiro Reaça", levou à interrupção das atividades do Museu da Diversidade Sexual
A abertura da mostra Duo Drag, do fotógrafo Paulo Vitale, com retratos de cinquenta drag queens e 35 depoimentos em vídeo de parte delas, além do lançamento do livro Drags, não acontecerá mais no sábado 30, em São Paulo. O adiamento se deve a uma decisão judicial determinando a suspensão das atividades do Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo, onde a exposição, com curadoria de Leonardo Birche, ficaria em cartaz. No valor de 30 milhões de reais, o acordo entre o governo do estado e o Instituto Odeon, que administraria o equipamento cultural por cinco anos, está sendo questionado.
Tudo começou em dezembro do ano passado, quando o deputado estadual Gil Diniz (PL), apelidado de “Carteiro Reaça”, entrou com uma ação questionando um projeto de ampliação do MDS, no valor de 9 milhões de reais. Na argumentação, Diniz, que é correligionário de Jair Bolsonaro, questionava, além do valor considerado excessivo, a idoneidade do Instituto Odeon, organização social do Rio de Janeiro, que teve suas contas questionadas quando administrava o Theatro Municipal de São Paulo. Além disso, insinuou que o museu se tratava de uma espécie de “sala de exposição” do movimento LGBTQIA+ e que a comunidade seria mais bem servida por outras políticas públicas.
A decisão liminar suspendendo o contrato foi acatada pela juíza Carmen Cristina Teijeiro, que em sua justificativa reforçou o argumento de que o Odeon teve suas contas rejeitadas quando administrava o Municipal de São Paulo. A Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado entrou com um recurso, que foi negado. A pasta, no entanto, voltará a recorrer, pois “considera essencial o desenvolvimento de políticas de visibilidade da cultura LGBTQIA+”.
Em nota, a secretaria explica que a expansão do MDS, localizado na estação República do Metrô, no centro de São Paulo, dos atuais 100 metros quadrados para 540 metros quadrados vai permitir a realização de exposições multimídia de longa duração, mostras temporárias e eventos: “Com isso, será possível aumentar o público visitante, promovendo o resgate histórico, a transformação social e o desenvolvimento da comunidade. O museu é a primeira instituição do tipo na América Latina e irá completar 10 anos em 2022”.
O texto ainda diz que a seleção da organização social responsável pela gestão do Museu da Diversidade Sexual seguiu a legislação vigente e todas as normas de convocação pública: “Ela aconteceu entre outubro e dezembro de 2021 e a organização social escolhida apresentou toda a documentação necessária”.