Caroline Dooner, a inimiga dos regimes
A atriz e humorista americana de 34 anos lança livro no qual prega a liberdade de ficar em paz com a balança comendo à vontade


O livro F*da-se a Dieta, publicado no Brasil pela editora BestSeller, une experiências pessoais e estudos científicos para atacar os regimes restritivos. O que motiva sua cruzada? Creio que dificultamos nossa própria relação com a comida. Não percebemos quanto a culpa, as regras alimentares, a busca pelo emagrecimento e as tentativas frustradas de dietas dão a sensação de perda de controle sobre nosso corpo. É preciso um processo de cura para sair desse ciclo e confiarmos em nós mesmos. Falo sobre esses princípios em workshops há cinco anos.
Como atriz e comediante sem formação em saúde, não lhe faltam credenciais para atacar as dietas? Há pessoas presas ao fato de eu não ser médica, mas isso não importa. Reúno no livro pesquisas de profissionais e cientistas da área, e cito todas as referências. Lembro ainda que é um livro baseado na minha relação com a comida.
Após anos testando regimes da moda, por que se autoproclamou uma ex-viciada em dietas? Para mim foi revolucionária a ideia de voltar ao meu próprio corpo. Com isso, passei a questionar: estamos realmente habitando nosso organismo? Sentindo nossas emoções? Para evitar a dor, nos distraímos com obsessões como a busca por um corpo que não é o nosso.
Como tem sido a recepção de seu ativismo contra a cultura fitness e sua defesa de vilões como carboidratos, açúcares e até a comida “trash”? Muitos interpretam isso como irresponsável, pouco saudável ou um sinal de desistência da minha parte. Mas meu objetivo é falar com pessoas que levaram o desejo de ser “saudável” a um nível insalubre. Quero ajudá-las a melhorar seu bem-estar e confiança. Não é meu plano convencer os dietistas radicais a mudarem seus hábitos.
O livro é anunciado como uma resposta feminista à cultura da dieta. De que forma as mulheres são mais afetadas por isso que os homens? Foi no passado um fardo principalmente para as mulheres, quando a beleza convencional era uma das únicas maneiras de garantir poder e respeito, mas agora parece que é a vez de todo mundo odiar seu corpo. Tenho notado pequenas mudanças no mercado contra a cultura da gordofobia, como nas pessoas que são escaladas para comerciais e anúncios de roupas. Mas a melhor coisa a fazer é compartilhar o ativismo em um nível individual, com quem é próximo de nós.
Como lidar com os padrões físicos inalcançáveis propalados pelas redes sociais? O primeiro passo é entender quanto as imagens que vemos podem ser uma lavagem cerebral. Uma vez que compreendemos isso, precisamos nos proteger. Para isso, organize seus feeds de mídia social para mostrar pessoas que vão inspirá-lo a ser mais gentil consigo mesmo, não aquelas que fazem você se sentir inadequado.
Publicado em VEJA de 23 de março de 2022, edição nº 2781