Cais do Valongo volta a abrir para o público no Rio de Janeiro
Em reforma desde julho, local passou readequação física e instalação de novos recursos

O Cais do Valongo, principal porto de desembarque de africanos escravizados nas Américas durante os séculos XVIII e XIX, volta a abrir as portas para o público nesta quinta-feira, 23. O local estava em reforma desde julho para readequação física e instalação de novos recursos informacionais.
A obra, que custou 2 milhões de reais, incluiu a instalação de sinalização educativa, painéis expositivos e a substituição do guarda-corpo e é resultado de uma colaboração entre prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), State Grid e Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). A cerimônia de reinauguração, com horário de início previsto para as 9h30, e contará com a presença autoridades do Governo Federal, o presidente do Iphan, Leandro Grass, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloízio Mercadante.
O local foi desativado em 1831, depois de receber 1 milhão de escravos, segundo o Iphan, devido à proibição do tráfico transatlântico. Em 1843, foi aterrado para a construção de um novo cais, que receberia a princesa Teresa Cristina, esposa do imperador Dom Pedro II, e passou a ser chamado de Cais da Imperatriz.
No início do século passado, foi novamente aterrado, com as reformas urbanísticas da cidade. Após ser descoberto em 2011, o Cais do Valongo passou a ser protegido pelo Iphan em 2012, mesmo ano em que foi aberto à visitação. Tornou-se Patrimônio Cultural da Cidade do Rio em 2013 e foi nomeado Patrimônio Mundial em julho de 2017.
“Essa memória precisa ser preservada, como um porto da nossa história e um farol de mudanças que precisam manter as pessoas negras donas de suas trajetórias do presente e do futuro e cada vez mais distantes do passado perverso da escravidão”, afirmou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em evento comemorativo ao Dia da Consciência Negra, na última segunda-feira, 20.
O local, que é símbolo de uma parte triste da história do país, também é de extrema importância cultural. “Não foi só a mão de obra escrava que entrou pelo cais. Trouxeram também uma nova possibilidade de civilização, através da sua cultura, da sua espiritualidade, dos seus costumes e sua sociabilidade, que marca muito hoje a sociedade brasileira. Não se pode pensar o Brasil sem capoeira, sem samba, sem maracatu”, afirma o babalaô Ivanir dos Santos, professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Comitê Gestor do Cais.
O Cais do Valongo fica em uma região conhecida como Pequena África, por reunir uma população majoritariamente negra e por ter uma história ligada à diáspora africana, com sítios como o Cemitério dos Pretos Novos, local de sepultamento de africanos recém-desembarcados no Valongo que morriam antes de serem vendidos, e a Pedra do Sal, considerada um dos berços do samba urbano carioca.
(Com Agência Brasil)