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Arte de vestir: parceria entre MAM e Hang Loose cria roupas baseadas em obras em exposição

Peças são feitas com obras que integram o 38º Panorama da Arte Contemporânea, em cartaz até janeiro, que mostram a produção atual do país

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 dez 2024, 17h10

Há um intenso debate no mundo das artes sobre maneiras eficazes de levar as obras que estão dentro dos museus para um público maior. Há diversas maneiras discutidas pelos curadores, como exposições itinerantes, mostras digitais e intervenções urbanas. A lista é grande. Ou, então, elas podem estampar roupas que serão usadas pelas pessoas nas ruas, ampliando de forma exponencial sua exposição a diferentes públicos. Essa foi a estratégia do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) ao lançar uma coleção em parceria com a marca brasileira Hang Loose.

As peças que compõem a coleção cápsula Mil Graus foram baseadas em obras que estão no 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil Graus. A partir da noção de calor-limite — uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se transforma, os curadores Germano Dushá, Thiago de Paula Souza e Ariana Nuala selecionaram obras de artistas que representam a atual cena contemporânea brasileira, dialogando com temas da atualidade, como a emergência climática e questões socioculturais e tecnológicas. “Aproveitando a força do Panorama, queríamos sair do museu, da exposição, do cubo branco”, afirma o curador Germano Dushá em referência ao tradicional modelo expositivo. “Ter uma marca que fizesse as roupas foi um conduíte para ampliar o debate”, diz.

A inspiração veio de outros museus, como o Victoria and Albert Museum, de Londres, que lançou uma coleção com a grife australiana Camilla, ou o Metropolitan, de Nova York, que criou peças em parcerias com marcas importantes como a Pyer Moss e Christopher John Rogers.

A escolha pela Hang Loose dialoga diretamente com o tema do Panorama. “A mostra celebra uma expressão urbana, das ruas, que pode significar algo excelente, mas também algo complicado. Criamos uma exposição em torno de uma gíria. E Hang Loose é a expressão visual mais usada na praia, na rua, onde se pratica o esporte ao ar livre”, diz Germano Dushá. 

Shapes de skate formam arte presente na exposição
Shapes de skate formam arte presente na exposição (Hang Loose/Divulgação)
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A marca tem uma longa conexão com a arte. “Surgimos em 1980. São mais de 40 anos. É uma marca antiga. E essa parceria tem tudo a ver com nossa história”, afirma Álfio Lagnado, criador da Hang Loose, que já lançou coleções com artes feitas pelo grande xilógrafo J. Borges (1935-2024), por exemplo.

O processo de elaboração foi demorado. “Foram mais de 30 reuniões com três grupos criativos diferentes: a curadoria, o museu e a marca”, conta Lagnado. “Olhamos muito para as artes, tentando entender o que funcionaria melhor na hora de fazer as estampas”, diz Dushá. “Em um tempo super curto, tivemos que organizar uma logística atípica com fornecedores de roupas e de outros materiais”, completa Gustavo Martins, gerente de marketing da Hang Loose.

A coleção conta com três camisetas, duas com artes de Paulo Nimer Pjota e Maria Lira, e outra com a expressão Mil Graus. Há bolsas, poncho para saída de praia, um boné e as três mais surpreendentes: uma raquete de frescobol, uma prancha de surfe estampada e um tríptico composto por três shapes de skate

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O lançamento é importante por representar uma iniciativa pioneira do tipo realizada pelo MAM. “É a primeira vez, no campo da arte contemporânea, que uma coleção se baseia totalmente em uma exposição”, diz Germano Dushá. “O Panorama já leva um outro público, mas ainda é pouco, considerando que o público brasileiro não tem costume de ir ao museu para ver uma mostra de arte contemporânea”, completa. Além disso, as peças terão papel fundamental em acelerar o processo de rejuvenescimento pela qual a Hang Loose passa. É algo que já vem sendo feito, mas que ganha novo – e fundamental – capítulo. “A gente vê um mundo de collabs, muitas feitas de forma massificada e até aleatória. Essa que fizemos tem uma profundidade de histórias que realmente mostra o que é uma collab: unir dois mundos diferentes numa intersecção”, conclui Gustavo Martins.

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