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A batalha dos noivos pelas festas de casamento, caríssimas e concorridas

Represadas pela pandemia, cerimônias agora causam mais estresse ainda: não há espaços disponíveis, os preços explodiram e tem celebração até na segunda

Por Duda Gomes 11 jun 2022, 08h00

Nos contos de fadas, o casal apaixonado passa por altos e baixos e chega ao final feliz. Pois durante a pandemia, sempre ela, até o final feliz ficou comprometido. Na impossibilidade de as pessoas saírem de casa e proibidas as aglomerações, pré-requisitos de qualquer boa festa, casamentos foram cancelados em série, criando uma demanda reprimida de quase dois anos que agora, com a população vacinada, instalou o caos e disseminou o vale-tudo no mercado matrimonial. O calendário das casas de festa estão lotados, fotógrafos, DJs e estilistas se declaram sem espaço na agenda e o sábado, dia da semana mais almejado pelos pombinhos, virou sonho inalcançável. “Estamos indo para sextas e domingos, mas nada é capaz de impedir as pessoas de comemorar. Diversão é a palavra de ordem. Todo mundo quer festejar”, afirma o cobiçado cerimonialista carioca Roberto Cohen, que só tem sábados livres no segundo semestre de 2023.

A questão do dia é dramática — a ponto de a subida ao altar estar sendo planejada até para a antes esnobadíssima segunda-feira. O casal Natália, 32 anos, e Renan Nogueira, 30, que mora em Vitória mas vai se casar em Fortaleza (no religioso — o civil, simplesinho e seguido de um jantar para poucas pessoas, aconteceu no ano passado), escolheu esse dia da semana em novembro para subir ao altar por ser véspera de feriado — e, milagre, estar livre. “O casamento ia ser em um sábado de setembro de 2020, mas tivemos de adiar duas vezes. Quando enfim as festas voltaram a ser autorizadas, não tinha mais fim de semana disponível para encaixar todos os fornecedores com quem eu havia fechado anos atrás”, conta Natália. Esse, aliás, é outro problemão a empurrar as pobres noivas para o tradicional ataque de nervos: como muitos contratos foram fechados com datas específicas, reorganizar os profissionais para o novo dia virou um quebra-cabeça. O fotógrafo Roberto Tamer, que tem trabalhos agendados até 2024, fazia em média 42 casamentos por ano. Em 2022, está batendo em 87 festas. Só em maio, o mês das noivas, chegou a clicar quatro cerimônias por semana. “Tive de remanejar todos os casamentos que estavam fechados antes da pandemia, o que tomou muitas datas livres. Alguns foram para os dias de semana, único jeito de as pessoas se encaixarem na agenda do profissional que queriam”, explica Tamer.

CONVIDADA-SURPRESA - Munir e Mariana tiveram de esperar tanto tempo pela festa de casamento que a ordem dos fatores se inverteu: há sete meses, em plena pandemia, nasceu Elizabeth. “É nosso maior presente”, diz Mariana -
CONVIDADA-SURPRESA – Munir e Mariana tiveram de esperar tanto tempo pela festa de casamento que a ordem dos fatores se inverteu: há sete meses, em plena pandemia, nasceu Elizabeth. “É nosso maior presente”, diz Mariana – (./Arquivo pessoal)

Nos cartórios, a espera para assinar os papéis pode chegar a meses. De acordo com a Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil), que trata do assunto, só nos primeiros quatro meses de 2022 houve um aumento de 21% na entrada de documentação para matrimônios, em comparação com o mesmo período de 2020. A demora é tanta que a lista de convidados acaba tendo ausências e adesões excepcionais. A nutricionista Mariana Veloso, 34 anos, foi pedida em casamento pelo empresário Munir Khayat, 39, do Rio de Janeiro, em junho de 2019, e eles planejaram subir ao altar um ano depois. Veio o novo coronavírus e tiveram de adiar a data três vezes. Mariana sonhava em ter os avós ao seu lado no grande dia, mas eles se foram no intervalo. Em compensação, o casal teve uma filhinha, que, aos 7 meses, será uma das estrelas da cerimônia agendada para setembro, no Copacabana Palace. “Confesso que sinto um pouquinho de medo. Depois de tantas tentativas, não tem como saber o que ainda pode acontecer”, desabafa a noiva.

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arte casamento

Dois hábitos cultivados durante o mutirão anticontágio viraram tendência no universo casamenteiro: as reuniões em espaços abertos e, consequência natural, ainda com o dia claro. Isso, óbvio, se as reservas — e o orçamento — permitirem. Cumprindo à risca a lei da oferta e procura, os locais mais procurados, como a Hípica Santo Amaro e o hotel Palácio Tangará, em São Paulo, aumentaram até 50% o valor do aluguel de suas dependências nos últimos seis meses. “Aconselho os casais a ver tudo com bastante antecedência. A organização da festa hoje em dia está levando pelo menos um ano e meio, seis meses a mais do que antes da pandemia”, diz a assessora de casamentos Georgia Nog, da Toda de Branco. Os cariocas Bárbara Piva, 22 anos, e Lucas Morgado, 24, resolveram se casar em um espaço aberto no feriado de 12 de outubro — de 2023, claro. “Visitamos um lugar que adorei, mas não tinha a data que eu queria. Continuamos vendo outras opções, mas está difícil. Já ando pensando em abrir mão do feriado”, suspira Bárbara. No pós-pandemia, chegar ao final feliz dos contos de fadas virou, isso sim, uma epopeia.

Publicado em VEJA de 15 de junho de 2022, edição nº 2793

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