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Tudo novo, de novo

O desejo de mudança move a vida — e a civilização

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 Maio 2023, 08h00

Este não é um texto de autoajuda, embora possa acabar sendo. Falo de mudança tal como é. De todas as pessoas que já conheci, a que mais se mudou na vida fui eu. Sem contar a época em que vivi no interior (até os 15 anos), na cidade de São Paulo já morei em Santana, Lapa, Alto da Lapa, Pinheiros (dois endereços diferentes), Água Branca, Perdizes, Jardins, Bela Vista, Aclimação, Granja Viana, Pacaembu (dois endereços também), Praça da República, Morumbi, Higienópolis, de novo Pacaembu, Granja Viana mais uma vez, e agora, já sei que não vão se surpreender, estou de mudança da Granja para os Jardins. Quando era mais novo, meus amigos brincavam que eu mudava tanto porque meus pais não pagavam o aluguel. Meia verdade: eles não davam conta dos aumentos, e tínhamos de procurar endereço mais em conta. Depois, descobri uma inesperada vocação para comprar e vender imóveis. Sou um escritor com jeito para corretor. Assim, eu entrava em um apartamento ou casa, arrumava, decorava e vendia comigo lá dentro.

“Já tentei várias carreiras, antes de me tornar escritor. Até ator tentei ser, mas era um desastre”

Enquanto outras pessoas enlouquecem diante da palavra mudança, eu sou irrequieto. Mudo, e pronto. Siiimmmmmm… estou mudando novamente. Podem dizer que sou doido, eu assumo. Junto com as asas que me impelem a voar para novos endereços, fui me tornando um acumulador. Sou apaixonado por livros, socorro! Ainda mais depois que surgiram as compras por internet. As estantes estão cheias, há pilhas no chão de toda a casa. Se li todos? Claro que não. Todo mundo que compra muitos livros jamais lê todos. Um fiasco. Mas também há um pouco de tudo. Minha coleção de caveiras, lembranças de toda a vida. É um terror receber objetos de decoração de presente. Eu tenho uma alma clean. Mas goste ou não goste, a gente tem que pendurar o mimo. Sempre existirá o dia em que alguém virá em casa com a pergunta: “E aquele vasinho que eu te dei?”. “Está aqui”, respondo com um sorriso e mostro o presente atrás de uma pilha de livros, com risco de cair no chão. Já cheguei a ganhar uma jarra linda, lituana, de minha amiga escritora Marcia Kupstas. Ela avisou: “Se quebrar, é azar pra vida toda”. Agora, cada vez que olho para o presente, tenho um calafrio.

Mesmo assim, já estou encaixotando os livros, com dor na coluna de tanto me debruçar. Pronto para mudar para um apartamento, cuja reforma atrasou na pandemia. Minha casa é linda, com muito verde, na Granja Viana. Mas quem me segura, quando tem novidade?

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Acredito que mudar fisicamente é apenas um sintoma de quem tem disposição para mudar na vida. Já tentei várias carreiras, antes de me tornar escritor. Até ator tentei ser, mas era um desastre. Estou prestes a dar um passo, além da mudança de endereço. Meu amigo, o doutor Pedro Andrade, raspou a cabeça. Nunca fui careca. Está me convencendo a imitá-lo. Aguardem.

Desapegar dá uma sensação de liberdade incrível. Aconselho, sempre. Desapegue, mude, descubra alguma coisa nova. A novidade, por si só, já é uma coisa boa.

Publicado em VEJA de 24 de maio de 2023, edição nº 2842

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