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Tanto áudio, que horror

Com as eleições, o tormento dos recados falados só vai piorar

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 fev 2022, 08h00

Se tem uma coisa de que não gosto é mensagem de voz. Leio bastante depressa. Bato os olhos em uma mensagem escrita e já sei do que se trata. A de voz tenho de ouvir inteira, com exclamações, momentos de emoção… Sou sincero com todos os meus amigos e conhecidos. Aviso que não gosto. Adianta? Ontem mesmo recebi uma de mais de quatro minutos, com longas explicações psicanalíticas sobre o momento de vida de quem gravava. Não ouvir nem sempre é simples. Pode ser ofensivo, magoar. Sempre fico em dúvida, apesar de tender à sinceridade expressa. As pessoas também exageram. Outro dia recebi um recado escrito: “Sei que não gosta de mensagem de voz, mas ouça a que mandei”. Refleti: “Se ele sabe que não gosto, por que mandou?”. Respondi que não ouviria. Retrucou: “Você é sempre igual”. Ainda bem. Melhor ser igual do que diferente. Pelo menos há uma lógica no meu comportamento. Não nego: lógica antipática para muitos.

Para me salvar, aprendi a acelerar as mensagens. Em maior velocidade, dá para entender do que se trata. Médio. Às vezes não dá, não, exatamente. Pior. Recentemente, ouvi várias mensagens aceleradas de uma mesma pessoa. Quando encontrei com ela, estranhei sua voz. Parecia lenta demais.

“Mensagens de voz são a ponta do iceberg. A lista vai crescer, pois a tecnologia é plataforma do ego”

Há pessoas precisas, e aí tudo bem. Em uma ou duas frases, resolvem o assunto. Outras partem para o monólogo, repleto de explicações e lances autobiográficos. Eu me pergunto: como as pessoas podem ser tão desatentas ao outro? Para não dizer mal-educadas! Muitas vezes começa assim: “Desculpe, mas a mensagem é longa…”. Se alguém sente necessidade de pedir desculpa, é porque tem consciência de que vai incomodar. E daí? Incomoda e pronto.

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Assim como tem quem envie músicas pelo Whats. Não estou falando de seres dedicados à nossa felicidade que mandam músicas que amam, cuja beleza querem compartilhar. Não. São compositores, cantores… Em uma ligação, alguém conta que compôs ou está gravando. Eu dou os parabéns, mas não comento. Aiiii… Quem quer elogios é incansável. Dali a uns dias, a música vem na mensagem. Não pedi, nem manifestei interesse forte. Mas vem. Ouço por gentileza. Se não gosto, não comento. Imagine. A pessoa pergunta se recebi. Se ouvi. Se gostei. Antes eu dizia que sim. Ninguém se contentava com uma resposta simples. Perguntava se a voz era afinada. Se tinha chances no mundo musical. E cada vez eu me enrolava mais e mais. Por que, atrás de todas as perguntas, tinha umazinha pronta para o bote: “Dá pra colocar em novela?”. Mas, mesmo que eu não fosse autor de novelas, as músicas seriam mandadas. A vaidade é infinita. Querem elogios, e é disso que se trata. Fujo de áudios. Mas, nos tempos que se aproximam, será pior. Candidatos descobriram esse canal. De repente, meu dedo resvala. Começo a ouvir discurso. Contra, a favor. Sempre chato.

Mensagens de voz são a ponta do iceberg. A lista vai crescer, porque a tecnologia também é plataforma para o ego. Vamos ver qual a próxima novidade. Socorro.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2022, edição nº 2776

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