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Roupa de domingo

Relação com vestuário hoje é informal, mas ainda há regras

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 abr 2024, 08h00

Quando eu era criança, o traje de domingo era especial. Para as mulheres, o dia de usar o melhor vestido, ver e ser vista na missa. Os homens botavam terno — os mais elegantes, de linho branco. Todos se vestiam com o que tinham de melhor em seus guarda-­roupas. Não só no domingo, aliás. Ninguém ia de chinelo ao cinema, de bermuda ao teatro, muito menos saía de Crocs para qualquer lugar. Não só pelo fato de eles não existirem naquela época, mas porque havia um ritual para se apresentar em público. Fosse numa situação social, ou ao chegar de uma viagem. A piada de que banho só aos sábados tem sua razão de ser. Inspirados em suas origens europeias, boa parte dos brasileiros tomava muito menos banho do que hoje. Mas um bom perfume não podia faltar. As pessoas se arrumavam para sair, com certa cerimônia. Homens não dispensavam gravatas, nem sapatos bem engraxados. Os salões de beleza lotavam às sextas, porque as mulheres exigiam penteados elegantes. A humanidade sempre usou as vestimentas para pertencer a algum grupo. E também excluir. A roupa era um cartão de visitas. Mas havia uma certa beleza em ir ao cinema, por exemplo, e se encontrar com pessoas alinhadas. Até para enterros havia a roupa adequada: era muito feio as mulheres não botarem preto e os homens, no mínimo, uma fitinha negra na lapela. Para visitar os parentes, minha mãe botava seus sapatinhos vermelhos de salto, minhas tias chegavam com vestidos de renda, e bijuterias faiscantes. Meu cabelo e o de meu pai eram horrorosamente penteados com uma pasta grudenta, que me dava um aspecto de molhado e textura de capacete. Pobre mamãe! Não era vaidosa e só usava saltos nessas ocasiões especiais. Ao voltar para casa, a melhor parte… libertava seus pés gordinhos e andava descalça.

“A moda é mutante, e as pessoas gastam para se vestir. Mas o street wear substituiu saltos e ternos”

Hoje em dia, na maior parte do tempo, uso preto para não ter o trabalho de escolher a roupa. Abuso dos moletons, tecidos molinhos. A regra é: conforto! Observo que a maior parte das pessoas pensa igual a mim. Até em restaurantes de luxo, vejo rapazes de camiseta regata e mulheres de sandália rasteirinha.

Vestir-se formalmente para uma ocasião deixou de ser importante para grande parte das pessoas. As poucas vezes em que ainda recebo um convite pedindo traje black-­tie, oh céus! Gelo, penso e repenso. Dá preguiça. A formalidade ficou relegada às festas de debutantes, que também estão entrando em extinção. As garotas preferem viajar, fazer selfies e postar. Os looks? Cada vez mais ousados, menos formais e bons para reaproveitar. Ainda há advogados, professores, médicos e religiosos que preferem se vestir de maneira menos casual, apesar do calor. Mas aos domingos botam bermuda e tênis!

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A moda é mutante, e as pessoas gastam caro para se vestir. Só que o street wear substituiu saltos e ternos. Mais fácil uma pessoa elegante botar um piercing que uma abotoadura. Antes todo mundo se uniformizava para sair de casa, com trajes semelhantes. Hoje, também. Mas ainda não se deram conta disso e se acham absolutamente originais.

Publicado em VEJA de 12 de abril de 2024, edição nº 2888

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