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Walcyr Carrasco

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O terror do ensino escolar

A volta às aulas não é simples: implica em reflexão e planejamento

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h24 - Publicado em 11 set 2020, 06h00

Um garoto de 13 anos que conheço acorda todos os dias às 6 da manhã. Às 7 começam suas aulas digitais, de um dos melhores estabelecimentos de ensino particular de São Paulo. Duram seis horas seguidas. Dá para imaginar maior terror? Recentemente, eu tive uma reunião por Zoom que demorou uma hora e meia. Terminei exausto. Imagine os estudantes, grudados horas e horas numa tela, assistindo às performances de professores, muitos dos quais não têm o menor talento para digital influencers. Quando estudante — podem me criticar — cheguei a dormir em aulas de mestres tediosos. Se fosse hoje, eu desmaiava! Por saber da atual dificuldade do ensino a distância (quando isso não foi uma opção), a escola lota o aluno de trabalhos. Depois das seis horas on-line, ele passa mais seis fazendo exercícios, redações, respondendo a questões. Notem bem, esse é o retrato de um aluno privilegiado. Muitas escolas não têm como ensinar a distância, inclusive porque os alunos não possuem meios de acesso digitais. Há tentativas de solução, como atividades via televisão, ou fornecimento de material impresso. Obviamente, os estudantes mais pobres sofrem duplamente, porque nem a opção de aulas incrivelmente chatas eles têm.

A escola deve ser também um local de interação com outros alunos e professores. O relacionamento pessoal não pode ser substituído. Em outros países, onde já voltaram as aulas presenciais, o distanciamento social continua a ser mantido. Ninguém cresce, ninguém se transforma sem o outro. Fiz uma live esses dias com os deputados avaliados como os Top 3 da educação: Luisa Canziani (PTB-PR), Tábata Amaral (PDT-SP) e Israel Batista (PV-DF). Eles ocupam posições-chave na Frente Parlamentar Mista da Educação, que reúne mais de 100 políticos. Durante a conversa, ficou claro: serão necessários de dois a três anos para absorver o impacto causado na educação pelas aulas não presenciais na pandemia — e também simplesmente pela falta de aula, no caso de inúmeras escolas públicas.

“Não bastará reabrir os colégios e cobrar resultados dos estudantes. É preciso reinventar a educação”

Nós todos queremos amenizar a situação porque faz bem para a consciência. Achamos que os estudantes têm de aprender desse jeito, porque é a realidade. Muito interessante em um país que abriu shoppings e restaurantes rapidamente, mas manteve escolas, teatros e centros culturais fechados. Qual é a lógica dessas prioridades?

Muitos teóricos analisam os processos de ensino a distância. Mas a realidade é que eu mesmo fugia aterrorizado das aulas de matemática quando adolescente, um amigo tinha horror a literatura. Imagine hoje em dia! Faço um desafio. Acorde às 6 da manhã, sente-se às 7 em frente ao computador e ouça palestras. Pode fazer perguntas, mas não o tempo todo. Você se sente motivado para aprender?

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A pandemia é uma realidade, o distanciamento social deixará marcas. Muito se resolve por vias digitais, mas nem tudo. Agora, não bastará reabrir as escolas e cobrar resultados dos estudantes. Nem simplesmente impor uma data. A volta às aulas implica em reflexão e planejamento. Em muitos aspectos, é preciso reinventar a educação.

Publicado em VEJA de 16 de setembro de 2020, edição nº 2704

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