Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Walcyr Carrasco

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

Hora do ‘desaniversário’

É duro fugir dos cumprimentos nas redes a cada ano completado

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 ago 2024, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Assoprei as velinhas no dia 1º de dezembro do ano passado e até hoje não consegui responder às felicitações. Em tempos de redes sociais, todo mundo, absolutamente todo mundo, fica sabendo a data do meu aniversário, do seu e a daquele amiguinho da 4ª série que você nunca mais viu desde então. Todos, num clique, enviam mensagens otimistas. Acho incrível essa onda de positividade, mas o problema é que nunca termina. Já sabemos que uma década atrás precisávamos lutar para ficar on-line, com as conexões sempre instáveis. Hoje a batalha é para ficar off-line. Naquela época, uma comemoração de aniversário se dava numa festa com início, meio e fim. Até com os inimigos do fim, a gente dava um jeito de fazê-los caçar seu rumo, nem que fosse conduzindo a manada para um barzinho e fugindo depois. Hoje, para alguém “conectado” como eu, que tem todas as redes sociais na palma da mão, o parabéns vem às centenas. Pense: na minha idade não surgem só os amigos mais fiéis, mas também primos de oitavo grau, coleguinhas da creche, vizinhos da minha avó, no interior de São Paulo… Todos me conheceram em algum momento, claro. As relações foram fenecendo, tornaram-se lembranças… que ressurgem. No meu aniversário, é como se eu encontrasse antigos conhecidos numa gaveta, atrás do computador, no meio dos livros, enfim, é uma multidão que ressurge para dar os parabéns. Não que eu não goste. Até me sinto na obrigação de responder a um por um. A pessoa gastou alguns cliques da vida dela emanando coisas boas para mim. Passo os dias posteriores agradecendo. Mas, ao agradecer, elas iniciam uma conversa. Respondem: “E sua avó, como vai?”; “Morreu há dez anos”; “Que pena. A minha continua viva, mas tão doentinha…”; “E como vai fulano?”; “Não falo mais com ele há vinte anos, me deu um golpe…”. E quando dou por mim estou há horas falando de gente que não conheço mais com alguém de quem mal me lembro. Falta tempo para curtir o aqui e agora se preciso responder a todas as mensagens de “bom dia” e de “feliz aniversário”, que nossas tias costumam dar. Piorou: muitas mensagens são criadas pela IA, e uma simples tia pode disparar milhares de parabéns ao acordar. Mas, se não respondo, lá vem: “Que houve, não recebeu minha mensagem? A gente sempre lembra de você, não lembra mais da gente?”. Meus afazeres da semana viram uma confusão: não consigo confirmar a terapia, marcar o horário da fisio… Pior, não ganho presentes na quantidade de parabéns. Algumas pessoas têm coragem de dizer: “Você tem tanta coisa que eu não sabia o que dar”. E aí não dão nada, que horror. Fico pensando nos bons tempos em que uma lembrancinha era obrigatória. O 1º de dezembro deste ano é logo ali, mas ainda não terminei de responder a todos os cumprimentos de 2023, alguns do ano retrasado, outros do ano anterior.

    “Já pensou se cada parabéns se transformasse num Pix? Todo ano eu fugiria para as Ilhas Maldivas”

    Tudo seria mais fácil se eliminassem de vez o hábito de dar parabéns por mensagem (porque pessoalmente é gostoso de receber). E trocassem por algo mais prático. Um Pix, por exemplo. Já pensou se cada parabéns se transformasse num simpático Pix? Todo aniversário eu fugiria para as Ilhas Maldivas.

    Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2024, edição nº 2906

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.