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Felicidade é uma crença

Alcançar sucesso na vida é algo relativo — e que pode virar tormento

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 fev 2024, 08h00

Cresci ouvindo as pessoas falarem de seus projetos de felicidade. Ter um emprego público, para não passar pela angústia de uma demissão, casar com o amor de sua vida, ter uma profissão criativa e se tornar famoso, simplesmente ganhar na Mega-Sena e ser rico e feliz. (Boa parte desses planos está, sim, associada ao dinheiro.) Mas, depois de adulto, vi as pessoas detonarem seus próprios planos de felicidade. O emprego seguro vira uma chatice, a mulher desejada, uma piranha, o dinheiro, um transtorno, porque todo mundo acaba pedindo empréstimos que, na prática, se transformam em doações. Os planos de felicidade, por mais bem projetados, volta e meia viram fonte de tormentos.

Cheguei à conclusão de que felicidade de fato é uma crença. Há quem consiga tudo que sempre desejou, tudo que ambiciona, e continue reclamando da vida. Há quem tenha muito menos e viva com um sorriso no rosto. Seu sonho era viajar? Um reclama do café da manhã, nos vários hotéis cinco estrelas onde desfruta a vida. Outro comemora quando consegue a vaga de comissário de bordo. Tudo é ruim e tudo é bom, depende do prisma pelo qual se olha a vida.

“Há quem consiga tudo o que deseja e ainda reclame da vida. Há quem tenha menos e viva com um sorriso no rosto”

Eu pensei muito em tudo isso hoje, quando encontrei um amigo exalando satisfação com a vida. Há um ano, esse mesmo rapaz estava em choque após terminar uma relação homoafetiva com outro rapaz, que durou cinco anos. O romance se deteriorou quando decidiram abrir espaço para outras pessoas. O cônjuge apareceu com um terceiro, e, para surpresa de meu amigo, queria uma relação estável. Feliz e de bem com a vida, ele aceitou. Mas o casamento desarranjou. Passou a achar que o outro era mais amado e que, na verdade, o terceiro na relação era ele mesmo. As brigas tornaram-se constantes. Finalmente, os outros dois tentaram jogá-lo do sétimo andar do conjunto de flats onde vivia. Salvou-se pelos próprios gritos, ouvidos pelos funcionários do prédio. Vivo, separou-se, decidido a não acreditar jamais no amor.

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Hoje, todo feliz, me contou que vai se casar. Com outro, ainda bem. Em seis meses conheceu o novo companheiro, vendeu seu flat e botou o dinheiro na mão do novo amor, que prometeu comprar um apartamento no nome de ambos. Como já está morando junto, resolveu casar-se até com cerimônia religiosa (que religião, não sei). Com os olhos inocentes, confiante na vida, diz que nunca achou amor maior. Só pensei: “Tomara que sobreviva”. Uma moça, pobre, conheceu um rapaz, engravidou. Ele sumiu. Descobriu-se que era casado e tinha filhos. Furiosa, ela foi procurá-lo. Engravidou de novo. Agora, ela acredita que ele vai “tomar jeito”. Mas que jeito, meu Deus, se continua casado e nem ajuda com pensão para o primeiro? Um amigo quase pirou ao emprestar o nome para um parente, bloqueado no banco, adquirir um carro. Na terceira prestação, parou de pagar. Meu amigo tenta conversar, chegar a uma conclusão, mas o outro foge. Fiz a pergunta simples: “Mas por que ele ia proteger seu nome se já perdeu o próprio?”. Como resposta, ele abriu a boca surpreso: “Como não pensei nisso antes?”.

Essas pessoas, assim como outras, acreditam tão firmemente na felicidade e nas novas oportunidades da vida que nem sei o que dizer. São bobas? Pode ser. Mas levam a vida de um modo muito mais agradável do que os desconfiados como eu.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

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