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Fábrica de rostos

A obsessão em rejuvenescer criou feições pasteurizadas

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 31 mar 2024, 08h00

Boto? As opções são muitas: toxina botulínica, preenchimento facial, fios de ouro, russos ou búlgaros. Esses últimos são fios de sustentação, mas a questão é que nem todos sustentam, alguns têm a finalidade de dar suporte ao colágeno, e outros, de preenchimento. “Já me apelidaram de Enel, de tantos fios que pus no rosto”, confessou um amigo. “Tenho mais fios que a rede elétrica.” Olhei para ele. Constatei que ele parecia mais com algumas celebridades que tenho visto por aí do que com ele mesmo. Há um fio tênue, digo, uma linha tênue que separa os resultados incríveis sem perder a naturalidade de um rosto pasteurizado — todos têm, por exemplo, a mesma boca de peixe. Ou seria bico de pato? Um amigo ator, na casa dos 20 anos, ganhou uma permuta com um dermatologista que o convenceu a aplicar Botox. Garantiu que era o momento certo para prevenir as rugas. Como de graça se aceita até injeção na testa, ele não fez por menos. Pôs no rosto todo. Poucos dias depois, não conseguia mexer nem o nariz. Com muito esforço, franziu a testa em formato de M. Queixou-se ao dermatologista — e dá-lhe mais injeção. Nem o M conseguiu fazer mais. Como ator, foi terrível. Para expressão de alegria, arregalava os olhos. De tristeza, abria a boca… e por aí foi, até passar o efeito, depois de alguns meses. Harmonização facial está em moda. O problema é que todos ficam com a mesma cara. No Carnaval, estive em um camarote da Sapucaí. Olhei em volta e pareciam todos irmãos, filhos do mesmo dermatologista. Amanheceu, colocaram óculos escuros e ficou ainda mais difícil distinguir um do outro, porque os sorrisos vinham da mesma forma, com lentes de contato.

“Aquilo que torna a pessoa única está se perdendo. Os procedimentos estéticos nos homogeneízam”

Aquilo que torna alguém único está se perdendo. Os procedimentos estéticos homogeneízam as pessoas. Rita Lee dizia que existem duas maneiras de envelhecer. Como feiticeiras ou como peruas. As feiticeiras usam a idade a seu favor e se orgulham de cada fase da vida. Já as peruas lutam contra o tempo. Mas isso vale também para os homens. Outro dia um amigo achou que estava ficando careca. Não teve dúvida: plantou um capinzal em cima da cabeça. Agora ostenta uma franja que insiste em soprar para fora do olho. Impossível é disfarçar esses procedimentos: estão na cara.

Sempre tive curiosidade de saber como meu rosto iria envelhecer, quais marcas iriam ficar, o que as linhas escritas pela vida iriam contar. Mas nem todo mundo pensa assim. Já tive uma amiga que se viciou em plásticas. Fez uma atrás da outra, até ficar irreconhecível. Só que não era infeliz. Quando olhava no espelho, se achava linda. E ainda me aconselhava a fazer procedimentos. Achava um absurdo viver sem eles.

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Fui a um profissional que me propôs uma plástica. Puxar tudo pra cima e rejuvenescer bem uns vinte anos. Mas para que eu precisaria parecer tão mais jovem? Minha vida é minha vida, é minha vida. Estou com outras prioridades. Meu método de não envelhecer é não perder a curiosidade.

Publicado em VEJA de 29 de março de 2024, edição nº 2886

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