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Dinheiro emprestado

Na quarentena, cuidado para não perder a grana e os amigos

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 ago 2020, 12h43 - Publicado em 28 ago 2020, 06h00

Empréstimo, quem gosta de pagar? Quantia pequena nem se fala. O devedor reage: “Você vai me cobrar essa miséria?”. Quando eu tinha 20 anos, passei uma temporada nos Estados Unidos. Até me surpreendi quando alguém me devolveu 2 dólares. Lá, não importa a quantia. Empréstimo é empréstimo. Na quarentena, os pedidos explodiram. Mesmo com a flexibilização, muitos negócios não voltaram a ser como antes — e talvez não voltem nunca. A situação é difícil. Mas muitos já pediam antes do isolamento social. Um amigo, certa vez, precisava muito resolver uma emergência, nem me lembro qual. Ajudei. Passaram-se os anos. No Instagram, vi posts de suas viagens, na Bahia no Carnaval, em Trancoso no verão. Agora houve um corte em sua empresa. Vou salvar a situação de novo? Generosidade não é burrice. O pior é quando o calote assume o papel de justiça social. “Você não precisa” — é um mantra que sempre ouvi dos devedores. Quando cobro, sou acusado de mesquinharia. Surgem comentários entre os amigos.

Eu já emprestei bastante, até ajudei um amigo a fazer um curso. Prometeu que, quando arrumasse emprego, devolveria tudo. Nem um centavo. Agora, na pandemia, crise em seu trabalho. Pediu-me um empréstimo mensal, para quitar aluguel, supermercado… Sem deixar cair o nível de vida. Respondi a ele que empréstimo mensal não dá. Ofendeu-se. Caloteiro se ofende fácil. Nunca foi tão válido o velho ditado: “Quando se empresta dinheiro, perdem-se o dinheiro e o amigo”.

“‘Você não precisa’ é um mantra que sempre ouvi dos devedores. Quando cobro, sou acusado de mesquinharia”

Há dois anos, um deles me ligou de madrugada. Tinha batido o carro em outro veículo, era culpado, estava sem seguro. Tinha emprego, carro… Avisei-o que teria uma responsabilidade: se não me pagasse, nunca mais eu emprestaria dinheiro a ninguém. Estaria prejudicando os outros no futuro. Em lágrimas, a pessoa me agradeceu. Bem mais tarde, saiu do emprego, vendeu seu carro, viajou… E nada! Foi uma lição.

Outra modalidade é o empréstimo de cartão. Uma funcionária deu o próprio para a melhor amiga comprar um eletrodoméstico a crédito. A tal amiga sumiu, óbvio. Da amizade, sobraram as prestações. Pior foi aquele que emprestou o nome. Primeiro, para a irmã montar uma empresa. Ela faliu. Depois de uma temporada no exterior, ele pediu um novo cartão no banco. Não conseguiu. Nome sujo. A irmã não encerrara o negócio, nem pagara o imposto de renda de anos. Gastou uma grana para resolver. Novamente, tentou o cartão de crédito. Ainda bloqueado. Muito antes, tinha emprestado o nome à namorada para financiar um carro. Ela não só não pagara, como devolvera o veículo. Este foi leiloado. Mas não quitou a dívida, que continuou rolando. Juros e juros. O rapaz teve de pagar tudo, e nem carro tinha para compensar. E se lamenta: “Se ela já estava com o nome sujo, qual a lógica de emprestar o meu?”.

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Caia na real: quem tem o hábito de pedir empréstimo, seja de grana, seja do nome, não gosta de pagar. A quarentena está difícil? Quer ser generoso? Faça uma doação. Pelo menos você não vai passar pelo stress de brigar para receber.

Publicado em VEJA de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702

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