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Desarmonização facial

A febre de intervenções estéticas cria pessoas irreconhecíveis

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2022, 18h06 - Publicado em 22 Maio 2022, 08h00

Certa vez, um cantor bonitão foi convidado para participar de uma novela. Quando apareceu em cena, estava irreconhecível. Motivo: uma harmonização facial que não deu certo, como ele próprio reconheceu publicamente. O procedimento entrou em moda. Há quem acredite que é a grande salvação de belezas perdidas ou que nunca existiram. Afinal, do que se trata? É um conjunto de procedimentos estéticos em prol da harmonia do rosto. O início do envelhecimento é o sinal de alerta para quem ainda não pensou nisso. Como quase todo mundo vive preocupado em envelhecer, o bip bip da harmonização toca o tempo todo. Declara-se guerra às rugas, olheiras, sulcos faciais, linhas de expressão. Em alguns casos, aumenta-se o queixo. Desenha-se a mandíbula com um gel preenchedor. Os lábios ganham contornos cada vez mais carnudos. Muitas vezes pigmentados com a “cor da boca”. Às vezes, assemelham-se a uma boca de peixe, dependendo da mão do profissional. O excesso de Botox também pode impedir a expressão de qualquer sentimento. Que importa, se o rosto vai ter uma aparência mais jovem, suavizada, como se tivesse passado por um filtro do Instagram? (Eu suponho que os filtros do Instagram são a grande inspiração para a harmonização facial.) Os radicais chegam a fazer a bichectomia — procedimento de remoção do corpo adiposo da bochecha. É para melhorar o formato facial. Tudo isso parece radical? Sem dúvida. Mas todo mundo fica mais parecido entre si. As pessoas perdem linhas e traços que as identificam com elas mesmas e sua família.

“Um ator que todos consideram bonito refez o rosto inteiro e postou nas redes sociais. Se ele precisa, ai de mim!”

É possível reconhecer um rosto harmonizado à primeira vista. Não tem como esconder. A não ser com as máscaras anti-Covid. Existem profissionais sérios e melhores na realização. Mas diariamente deparo com pessoas cuja aparência não deve ter sido escolhida conscientemente. Uma modelo que conheço está com a boca cada vez maior, desde a primeira vez em que a vi. Outro ator que todos consideram bonito refez o rosto inteiro e postou nas redes sociais. Se ele precisava, ai de mim! Recebo várias propostas querendo harmonizar meu rosto para eu postar também. Mas, por enquanto, fico com minhas rugas. São sinais de que estou envelhecendo, mas, de qualquer maneira, não envelhecer seria pior.

Não sou contrário às técnicas em si. Muitas fazem bem à aparência e, melhor ainda, à autoestima. Mas a linha entre o procedimento bem-sucedido e um rosto de Frankenstein é tênue. Sem falar nas loucuras de imaginação dos clientes — com que nem todos os profissionais compactuam. Há um rapaz que fez cirurgias para ficar igual ao Luan Santana. Impossível, Luan é Luan.

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Além do mais, existem lentes dentárias que deixam um sorriso de piano! No neon, os dentes brilham. Como as técnicas são as mesmas, os resultados são semelhantes. As pessoas vão perdendo sua individualidade.

Isso tudo, somado a meu grau de miopia, me dá um medo! Sou capaz de não distinguir quem é quem no próximo evento social.

Publicado em VEJA de 25 de maio de 2022, edição nº 2790

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