Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Walcyr Carrasco
Continua após publicidade

A velocidade da mudança

Como se adaptar às revoluções vertiginosas no vocabulário

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 ago 2021, 09h57 - Publicado em 6 ago 2021, 06h00

Não há botox, plástica ou tratamento estético que esconda a idade de quem não faça um tratamento cirúrgico na própria linguagem. Eu estava lendo Baixo Esplendor, do Marçal Aquino — um ótimo livro, por sinal —, que se passa nos anos 70. Os personagens, por exemplo, correm para atender o telefone. Não que isso jamais ocorra atualmente. Mas em geral as pessoas usam celular e, quando toca, ninguém corre. Basta tirá-lo do bolso ou da bolsa. Expressões como “vou bater o telefone na sua cara” são obsoletas. Vai bater o quê? O celular? E quebrar, no preço que está? Algumas, mais antigas, como “tirei seu nome da minha caderneta”, não se dizem. Não se usa mais a velha caderneta de endereço. Hoje é tudo digital. Tudo bem, algumas pessoas usam, mas são dinossauros apegados ao passado. No mesmo livro há um Gordini. Quem se lembra do Gordini? É o mesmo que se recordar do Orkut, embora sejam de épocas absolutamente diferentes. Fale com um garoto de 14 anos. Não saberá nem o que é um, nem o outro. Possivelmente, também não saberá quem foi Dostoievski, o que é mais inquietante. Mas todos conhecem uma legião de influencers com milhões de seguidores — e eu, não.

A necessidade de atualização é constante e cruel. Imaginem para mim, que sou dos tempos da máquina de escrever. Do xerox. Até pouco tempo, um amigo deixava um recado na secretária eletrônica: “Envie um fax”. Não tem mais secretária, nem fax! O modo de falar nem sempre acompanha a velocidade das inovações. Até pouco tempo eu nem sabia o que era TikTok e ele já estava no auge. Surgem palavras como “monetizar”. Que vem de money e significa gerar dinheiro, tornar lucrativo A linguagem dos computadores entrou para o dia a dia e já se fala em “deletar” alguém de sua vida.

“Nunca a linguagem foi tão fluida. Já aguardo a próxima novidade para saber que palavra devo aprender”

A linguagem muda tão rapidamente que de um dia para o outro corro o risco de falar de um jeito antigo. A mudança não é só impulsionada pela tecnologia. Também há a questão das palavras de origem racista, expressões que atingem a mulher ou homofóbicas. Não saia, por exemplo, dizendo que alguém é gorda. No máximo, sobrepeso ou plus size. Ou pode até ser acusado de gordofobia e levar cadeia. Eu até me admiro porque a palavra “curtir”, que passou a ser usada na minha adolescência como gíria ligada ao uso da maconha, continua on. Sobreviveu. Falo curtir com tranquilidade, e me consideram avançado, ainda bem!

Continua após a publicidade

Pesquisa agora é no Google. Fala-se em “googlar” um nome. E lá vem a biografia, fotos… Recebia-se um calhamaço anual: era a lista telefônica. Hoje, nada mais antigo que ameaçar “vou tirar você da minha lista”. Cadê a lista? Encontra-se alguém mais rapidamente pelo Facebook, pelo Instagram… Outro dia, em um texto original para adolescentes, usei a palavra “stories”. A editora me advertiu: pode desaparecer. Substituída por uma nova tecnologia.

Nunca a linguagem foi tão rápida, tão fluida. Já aguardo a próxima novidade para descobrir que palavra devo aprender.

Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2021, edição nº 2750

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.