A autocobrança ainda vai te destruir: o lado perverso do perfeccionismo
Buscar sempre a perfeição pode ser o caminho da completa frustração. Entenda como sair desse beco cheio de medos e ansiedades

Você acorda todos os dias com a sensação de que está atrasado para uma prova invisível. Mesmo que tenha feito tudo, ainda sente que faltou algo, ou que poderia ter feito melhor. E, quando comete um erro, por menor que seja, ele vira um grito dentro da sua cabeça: “Tá vendo? Você falhou.”
Se isso soa familiar, talvez você esteja preso em uma equação silenciosa que comanda sua vida sem que perceba:
100% = Eu sou suficiente
Menos que isso = Fracasso
Mas essa equação não é lógica, é emocional. E ela suga sua energia, sua autoestima e, no fim, sua paz.
O perfeccionismo não é excelência, é medo disfarçado
Por fora, você parece uma fortaleza. Por dentro, vive num campo minado de autocobrança. Precisa ser a melhor mãe, o profissional impecável, a amiga que nunca falha…
Como se ser “quase bom o suficiente” fosse o mesmo que ser uma decepção ambulante. Mas essa é a verdade clínica que você precisa saber:
Perfeccionismo não é busca por excelência. É evitação emocional disfarçada de produtividade.
Atendo CEOs, médicos, mães, executivos e a história se repete. Lembro de uma cliente, uma líder brilhante. Após um e-mail de feedback neutro, ela travou. Releu a mensagem sete vezes, reescreveu a resposta outras tantas, e passou dias ruminando.
Por quê? Porque aquele e-mail ativou a equação: “Se eu não for perfeita, vou decepcionar. E se decepcionar, posso perder tudo.” Ela não estava respondendo a um e-mail, mas ao medo. Medo de não ser suficiente.
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O ciclo silencioso da exaustão
A mente perfeccionista vive presa num ciclo:
Pensamento: “Preciso dar 100% ou vou falhar.”
Emoção: Ansiedade, vergonha, culpa.
Comportamento: Refaz, procrastina, trava… até se esgotar.
Esse é o ciclo da evitação. Enquanto estiver preso nele, você não está buscando excelência. Você está evitando sentir.
Outro dia, meu filho Diego me disse: “Mamãe, perfeito não existe.”
E ele está certo. Mas por que esquecemos disso quando crescemos?
Nos ensinam a tirar A em tudo, mas ninguém fala que tentar tirar A em tudo é o caminho mais rápido para tirar F naquilo que mais importa.
Em vez de entregar 100%, ouse ser imperfeito
Quer quebrar esse ciclo? Comece assim:
Identifique a equação que comanda seu perfeccionismo. Observe o que você faz quando se sente “insuficiente”. O comportamento é sempre uma tentativa de aliviar a dor. Então, ouse testar uma nova equação.
Escolha uma área da sua vida onde a autocobrança te paralisa e se pergunte: “O que mudaria se eu entregasse 80% aqui, com intenção?”
Talvez você descubra que 80% com saúde vale mais que 100% com esgotamento. Porque viver com ousadia não é acertar tudo.
É aceitar, todos os dias, que você não precisa ser perfeito para ser digno.
Na próxima vez em que seu cérebro tentar te convencer de que só o 100% é suficiente, diga a ele: “Eu já valho. E viver com ousadia é justamente ter coragem de acreditar nisso.”