A estreia do Brasil na Copa do Mundo não foi lá essas coisas, mas causou um comoção em muita gente – inclusive em Rita de Cássia Fernanda da Silva Alcântara, de 30 anos, professora de Filosofia. O motivo é para lá de especial: quando lecionava na Escola Estadual Guilherme de Almeida, no Jardim Peri, em São Paulo, deu aulas para Gabriel Jesus, camisa 9 da seleção brasileira que compete para trazer a taça da Copa do Mundo para o país.
Para relembrar o momento e desejar boa sorte ao ídolo, Rita publicou em seu Facebook um relato sobre o dia em que Jesus falava sobre seu futuro com o futebol. O menino, então com 17 anos, estava aprendendo espanhol e inglês pois estava sendo observado pelos times estrangeiros. A publicação saudosista aconteceu pouco antes do jogo, no domingo, e rapidamente tomou a internet. Até agora são mais de 87 mil curtidas e 19,5 mil compartilhamentos.
Como não esperava tanta repercussão, a educadora contou que entrou em contato com Rodolfo Augusto, amigo de Gabriel Jesus que o acompanha nos jogos, para se desculpar à família. “Eu jamais imaginei que isso fosse tomar essa proporção. Liguei para o Rodolfo que está na Rússia para explicar a eles o que aconteceu. Todos deram muita risada e disseram pra eu ficar tranquila. Jesus é um menino incrível, muito simples, humilde – tanto que ainda fala com professores”, conta Rita. “A foto foi tão inocente que nem me preocupei com erros de português”, afirma rindo.
Um bom aluno
Sobre a foto, a docente conta que aquele foi o dia em que ele estava entregando à escola todos os documentos necessários para se formar (antes do tempo) no ensino médio. “Ele tinha acabado de voltar do campeonato do Palmeiras no time de base, tinha 17 anos. Estava prestes a entrar no profissional e por isso precisava concluir os estudos. A aula tinha acabado e nós estávamos falando com ele sobre plano de carreira. Perguntei se faria faculdade e ele disse que estava sem tempo, cursando línguas para sair do país”, relembra.
A conversa acabou se revelando profética: Gabriel Jesus foi para o exterior e acabou convocado na seleção de Tite. “Ele sempre foi muito fã do Ronaldo e disse que um dia iria jogar na seleção como ele. Eu disse: ‘Pode ter certeza que vou te ver jogar pelo Brasil’. No domingo isso aconteceu e eu fiquei muito feliz”, orgulha-se a educadora.
Mas a questão que não quer calar mesmo é: ele era da turma “do fundão”? Nem pensar, segundo Rita. Ela conta que Jesus sempre se comportou em sala – aliás, era uma exigência de sua mãe, Vera Lúcia, muito rígida. “Ela o criou sozinha, ele não teve contato com o pai. A mãe dele é muito batalhadora, trabalha muito, criou os filhos assim. Como ela é muito brava, ele sempre foi muito educado, nunca respondeu professor nenhum”, afirma.
Riso solto
Apesar de se comportar muito bem, Gabriel Jesus era o risonho da sala – ria de tudo, segundo Rita. “As pessoas que estavam assistindo ao jogo comigo até comentaram: ‘O juiz dá cartão, ele ri; ele sofre uma falta, ri’. Eu achei graça porque ele sempre foi assim. Dependendo do assunto que tratávamos nas aulas ele soltava umas gargalhadas; alegrava a turma”, relembra.
Aliás, se tem outra característica marcante em Gabriel Jesus, segundo Rita, é a humildade – que ela faz questão de frisar todas as vezes que fala sobre o craque. “Ele não esqueceu as origens dele, faz doações de ovo de páscoa e chuteiras no Peri. Ajuda muito a comunidade. Ele até hoje cumprimenta pessoa por pessoa; foi um menino que saiu da periferia e não deixou a fama subir à cabeça.”