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Vida de Imigrante

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Alegrias e agruras da maior diáspora brasileira da história, a partir do olhar de um entre os 5 milhões que formam o fenômeno.

A carne é mesmo fraca?

Mais de 80% das maiores empresas e instituições ligadas à pecuária no Brasil ignoram o desmatamento, diz estudo

Por Edison Veiga 12 dez 2024, 07h01

A preocupação com a origem dos alimentos é algo que me impressiona desde que me mudei para a Europa, e lá se vão quase sete anos. Não só a origem, mas toda a cadeia produtiva. No início fazia até piada com rótulos que informavam que a carne era de gado nascido na Itália, criado e engordado na Itália, alimentado com pasto italiano, abatido na Itália, desossado na Itália, embalado na Itália…

– Ma che…

Os ovos recebem um carimbo obrigatório — leio aqui que por uma regulação de 2004 da União Europeia — e fazer omelete se tornou uma gincana divertida. O código tem esse padrão: 0FR12345. Algo assim é estampado em cada um dos ovos. Em todos os ovos. O primeiro algarismo indica o tipo de produção e pode variar de 0 a 3 — respectivamente criação biológica, galinhas criadas ao ar livre, galinhas criadas no solo e galinhas confinadas em gaiolas. As duas letrinhas representam o país de origem. Por fim, os algarismos finais são uma espécie de RG do produtor.

Brincadeiras à parte, esses mecanismos de controle e informação fazem cada vez mais sentido em um mundo repleto de alimentos exageradamente manipulados, ultraprocessados e potenciais causadores de uma enormidade de problemas ambientais — direta ou indiretamente, pelas decisões e escolhas acerca do que nos alcança à mesa e pelas omissões e negligências dos grandes produtores.

Em seu recente doutorado, o brasileiro Mikael Linder estudou, na Universidade Livre de Bolzano, norte da Itália, as preferências dos consumidores por produtos originados de áreas montanhosas e como essas informações constam de seus rótulos.

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Linder tem uma sólida carreira na área, sempre buscando formas de empoderar pequenos produtores regionais com seus métodos e saberes tradicionais. E, obviamente, entender como esses alimentos mais autênticos podem chegar de maneira relativamente acessível aos nossos pratos e copos. Com seu trabalho, impactou diretamente comunidades, cooperativas, associações de produtores e outras entidades no Brasil, na Itália, na França… E agora, baseado no Quênia, tem atuado em diversos países africanos.

Estas linhas aqui escritas foram rascunhadas mentalmente enquanto eu fazia compras ontem pela manhã. Lembrei de uma matéria que escrevi há quatro anos. Na época, este mesmo supermercado de onde garatujo mentalmente parou de ter produtos brasileiros em suas gôndolas. Foi com um sorrisinho de canto, portanto, que constatei que hoje é possível de novo comprar castanhas-do-pará.

Botei dois pacotinhos no carrinho.

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Mas se as fagulhas políticas foram reduzidas, os problemas seguem existindo. A tragédia climática já se demonstra irreversível — e isso escancara o peso do estrago.

Sem transparência, passa boi, passa boiada

Diante do cenário, é no mínimo estarrecedor o que me conta a antropóloga brasileira Raisa Pina. Diretamente de Oxford, no Reino Unido, ela integra a equipe da organização Global Canopy que divulgou na quarta (11) um levantamento para lá de preocupante: dentre os 250 maiores envolvidos na cadeia da pecuária brasileira, mais de 80% ignoram o desmatamento no Brasil.

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Trocando em miúdos significa que, considerando as 175 maiores empresas do ramo e as 75 maiores instituições financeiras com investimentos no setor, apenas uma em cada cinco companhias publicou ou se comprometeu a seguir alguma política ambiental para conter a devastação florestal.

Vale ressaltar o que diz o texto preparado pela própria Raisa: “o desmatamento é uma das principais causas da crise climática em nível global e a pecuária, a maior impulsionadora da conversão de terras” e “o Brasil é responsável por quase 60% do desmatamento provocado por pastagens”.

A falta de transparência desta cadeia produtiva também ficou evidente no estudo. Segundo a análise dos pesquisadores, 91% das empresas não divulgam publicamente nenhum dos seus volumes de couro como livre de desmatamento ou conversão de ecossistemas. Para carne, o índice é de 88%.

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Ecoa aquela frase, vazada, do antigo ministro do Meio Ambiente defendendo o afrouxamento das regras ambientais “para passar a boiada”.

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