É comum se analisar os prejuízos econômicos em casos de guerra, como esta promovida pela Rússia em território ucraniano. Mas tentaremos fugir do padrão neste texto. quero hoje falar de oportunidades. Mas antes um contexto.
Sim, existe um complicante grande para o agronegócio brasileiro neste caso. Até 2020, a Rússia era apenas a 13a no ranking de importações brasileiras. Já em 2021, saltou para a 6a posição, quando o Brasil importou US$ 5,7 bilhões em produtos russos, notadamente impulsionados pelo mercado de fertilizantes para o agro nacional.
Já em exportações, de acordo com dados do Ministério da Economia, a Rússia comprou US$ 1,6 bilhões em produtos brasileiros. No geral, 2021 terminou com uma balança negativa para o lado brasileiro em US$ 4.1 bilhões. Ou seja, a Rússia representa por volta de 0,6% das exportações na balança comercial brasileira e 2,6% das importações. Obviamente poderíamos e deveríamos melhorar estas negociações.
No campo político, que importa e muito para o econômico, o Brasil começa a negociar com a Rússia em 1828. Já em 1991, nosso país foi um dos primeiros a reconhecer a Federação da Rússia, após a queda da URSS (União das Repúblicas Soviéticas Socialistas).
Fato é que agora a Rússia está em uma guerra imotivada e sua posição não só tem sido reprovada globalmente como também está sofrendo sanções devastadoras para sua economia. Para o Brasil, o embargo ou a dificuldade em se comprar fertilizantes ou matérias primas da Rússia realmente causará um impacto no agronegócio, que terá aumento de preço de alguns produtos e a provável diminuição de plantação para algumas culturas. Hoje, 23% de adubos e fertilizantes químicos do nosso agro vem da Rússia. E aí é que se encontra uma bela oportunidade.
Existe uma ótima possibilidade de aumentar nossas negociações para compra destes mesmos produtos da China, EUA e Canadá por exemplo. Sim, seria preciso uma equipe governamental competente para este momento, e também planejamento, uma vez que o agro tem se mantido diferencial para uma balança comercial minimamente favorável no Brasil. Em que pese ser esta uma escolha, para mim, não muito inteligente – pois renega à periferia do desenvolvimento a indústria nacional, que produz produtos de alto valor nas cadeias globais, esta foi uma escolha de país deste governo. De fato, caminhamos para ser a fazendinha do mundo. E para uma fazenda funcionar, fertilizantes são necessários.
E veja, não há aqui demérito em relação ao agro. Ao contrário. O agro é uma vocação brasileira e fundamental para nossas contas e importância global. Hoje temos um agro em que parte da produção é mecanizada, tecnológica. Mas continuamos entregando commodities e não produtos acabados, e isso claramente é uma estratégia nada produtiva.
No frigir dos ovos, não será a não compra de fertilizantes da Rússia que atrapalhará a já atrapalhada economia brasileira. O país só sofrerá mais do que deve (e muitos não gostam de ouvir sobre isso) no caso dos fertilizantes russos porque de fato nunca nos preparamos para cenários mais complexos, como este por exemplo – e isso não necessariamente é culpa do governo. Pode ser também um despreparo ou uma desatenção do setor produtivo. Quando estes cenários acontecem, achamos que estamos sendo surpreendidos. Mas não estamos. É a nossa conhecida ineficiência para planejar e responder de forma rápida as diversas crises que uma economia globalizada requer.
As crises são as mães das oportunidades. Nunca se esqueça disso. A questão é se o setor e o governo saberão lidar com isso.