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Robert Johnson e a morada do diabo

Clarksdale, cidade do sul dos Estados Unidos, ficou conhecida como o local em que o maior bluesman da história vendeu sua alma para se tornar um astro

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 jul 2019, 18h33 - Publicado em 15 jul 2019, 17h50

Clarksdale é uma cidade de 15 000 habitantes localizada no sul dos Estados Unidos. Ainda que não tenha a importância musical de Memphis ou Nasvhille, só para ficarmos entre duas localidades históricas, o município foi palco de fatos muito importantes para a história da cultura americana. Ele abrigou, por exemplo, o cantor iniciante McKinley Morganfield, que depois ganharia o nome de Muddy Waters. A cantora Bessie Smith morreu no hospital GT Thomas (o único da região que atendia a afro-americanos) depois de sofrer um acidente automobilístico na rodovia 61 e agonizar por horas à espera de um socorro médico. Clarksdale também foi o local de nascimento de Sam Cooke, o primeiro superstar da soul music, e Ike Turner, companheiro de vida, música e pancadas da diva Tina Turner. Mas o maior trunfo de Clarksdale tem um quê de macabro. Foi na encruzilhada das rodovias 61 e 49 que um certo Robert Johnson, aspirante a astro do blues, vendeu sua alma ao diabo em troca de fama e sucesso.

A encruzilhada mais famosa do blues
A encruzilhada mais famosa do blues (veja.com/VEJA/VEJA)

A cultura popular nos ensina que um trato com o diabo nunca acaba bem. Com Johnson não foi diferente. Por seis anos, de 1932 a 1938, ganhou a vida como músico itinerante, tocando em todo inferninho que se dispunha a abrigá-lo. Sua primeira sessão de gravação aconteceu de 23 a 25 de novembro de 1936 num hotel em Santo Antonio, no Texas. Johnson voltaria a registrar suas composições nos dias 19 e 20 de junho de 1937, em Dallas, também no Texas. As canções de Johnson, o uso criativo do slide (aquele pedaço de metal ou vidro que se coloca entre os dedos para que eles possam fazer a guitarra vibrar) ajudariam a criar as bases do blues e do rock’n’roll. Guitarristas lendários como Keith Richards e Eric Clapton são devotos desse material. O bluesman, contudo, mal teve tempo de saborear o sucesso. Morreu a 16 de agosto de 1938, possivelmente envenenado por uma namorada ciumenta ou um marido traído. Tinha 27 anos.

A mística em torno de Robert Johnson volta ao cartaz através de duas atrações do canal online Netflix. O primeiro se chama O Diabo na Encruzilhada e faz parte da série Remastered, que tenta explicar alguns dos principais enigmas da história da música. Há capítulos, por exemplo, sobre o atentado sofrido pelo astro do reggae Bob Marley, em 1976, e o assassinato de Sam Cooke em 1963. É uma produção didática, que fala das origens rurais de Johnson, seu despontar para a música e sua influência no blues e no rock’n’roll. Um dos pontos altos é a entrevista com Steven Johnson, neto do bluesman – que, para muitos, não tinha deixado herdeiros.

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Robert Johnson também é o tema de A Encruzilhada (Estados Unidos, 1986), do cineasta americano Walter Hill. O filme passou em brancas nuvens, mas é muito bem conduzido por Hill e as cenas musicais são impactantes. Um estudante de música erudita obcecado pelo blues, Eugene Martone (Ralph Macchio, o Karatê Kid) sai em busca de um veterano do blues, Willie Brown (Joe Seneca) a fim de aprender uma música inédita de Robert Johnson. A dupla percorre locais simbólicos do sul dos Estados Unidos, sofre com o racismo, encontra uma adolescente fugitiva (Frances, interpretada por Jami Gertz) e Martone finalmente encontra a essência do blues. Willie Brown, por seu turno, é assombrado por um pacto que ele fez com o diabo – e como a gente sabe, essa história nunca termina bem. É a deixa para o final, no qual Martone duela com Jack Butler, outro enviado do cramulhão. Butler é vivido por Steve Vai, um dos maiores guitarristas do final do século XX, enquanto que Ry Cooder, outra figura lendária da guitarra, cuida da parte de Macchio. “É claro que tudo foi feito para que eu ganhasse o duelo. Jamais conseguiria bater Steve Vai”, me confessou Cooder numa entrevista.

 

Eu mesmo tenho uma história pessoal com essa encruzilhada. Em 2012, durante uma matéria especial sobre Elvis Presley, me uni à câmera Raquel Hoshino, ao fotógrafo Gilberto Tadday e ao repórter Paulo Cavalcanti (da Rolling Stone) numa viagem sobre as origens da música americana. A encruzilhada do blues foi parada obrigatória. Foi um encontro tenebroso: quando estávamos chegando ao local, a rádio passou a tocar canções que falavam sobre hell (inferno) ou devil (diabo). A encruzilhada tem um quê de tenebroso, de energia muito negativa. Em todo caso, não esperamos o anoitecer para dar de encontro do diabo. Afinal, ser um mestre do blues nem sempre é algo vantajoso.

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