O documentário sobre a trajetória da Xuxa, disponível no Globoplay, levanta discussões sobre os conflitos entre artistas e empresários. A apresentadora reclama que foi manipulada desde o início da carreira, enquanto Marlene Mattos segue com o posicionamento que deu o seu melhor no período. À parte da ex-dupla, outros famosos também tiveram rompimentos turbulentos com quem gerencia sua vida profissional. O caminho da fama é tortuoso e gera embates de interesses, quase sempre, inevitáveis.
Aos 22 anos, após emplacar sua primeira novela na TV Globo, Larissa Manoela, assumiu a própria carreira. Entre os argumentos que vêm a público, há suposta acusação de que os pais controlavam a parte financeira, sem consultá-la, tentando também interferir até em seus relacionamentos amorosos. Ressalta-se que desde criança, nos tempos de sucesso no SBT, ela teve a trajetória acompanhada pela mãe. Ao aprender a “andar com as próprias pernas”, pulou fora do ninho. Também no âmbito empresa-família, um caso internacional de grande repercussão: Britney Spears, que lança em agosto a autobiografia The Woman In Me, viveu sob a tutela do pai por 13 anos, sem controle do próprio dinheiro ou escolhas na carreira. Mais recentemente veio à tona que Gal Costa, que morreu em novembro de 2022, teve relação conturbada com a empresária e companheira Wilma Petrillo, segundo amigos e familiares da cantora. Petrillo é acusada por ex-funcionários de assédio moral, ameaças e golpes financeiros. Todos estes exemplos só reforçam o quanto é conflituoso o caminho da fama.
Sem esconder sua insatisfação com a antiga gravadora com a qual tinha contrato, a Warner Music, Anitta criticou abertamente a empresa que mantinha parceria profissional de décadas antes de conseguir se liberar. Ela reclamava da falta de apoio para lançamentos e parcerias.
Alegando simplesmente que precisa “mudar” de rumo ou querendo um reposicionamento de imagem, os artistas tendem a romper com seus fieis escudeiros por motivos que variam de acordo com a maré. Depois de estourar no BBB, Grazi Massafera passou a se destacar como atriz, emplacando campanhas publicitárias milionárias no mesmo ritmo que as gravações de novelas. Certo dia, decidiu romper a parceria de 18 anos com Márcia Marbá, sua então empresária e quem lhe estendeu a mão assim que saiu do reality show. “Sei que tomamos esta decisão porque amadureci e sempre fui essa mulher que ama desafios. A transformação é um passo importante que desejo seguir daqui para frente. Quero contar as minhas narrativas de outro modo, me apropriando cada vez mais do caminho que venho traçando para mim”, disse Grazi, ao dizer tchau ao antigo escritório.
Essa insatisfação que toma o artista, a ponto de fazê-lo ter vontade de romper velhas “amizades” e contratos de trabalho duradouros, como se percebe, acontece em diferentes nichos. A empresária Piny Montoro, que cuida de nomes como Giovanna Antonelli, Carolina Ferraz e Glória Pires, fala à coluna que não existem grandes dificuldades na profissão – e sim escolhas. “A vida é feita de ciclos, nada é eterno. A gente tem que ter comprometimento e sinceridade sempre, mas quando os ciclos se encerram, não vejo problema. Como também não vejo nós empresários como criadores do talento, é uma equipe que trabalha uma pessoa. Não é possível criar alguém, o artista já está ali”. Ike Cruz, empresário de nomes como Sheron Menezzes, Juliana Paes e Giovanna Grigio, também acredita que as separações se dão por novas fases na carreira. “Se um empresário não estiver atento às mudanças do artista ao longo tempo, ele tende a focar naquilo que lançou o artista. Mas lá na frente, ele pode achar que isso é limitação. O empresário tem que entender as fases da carreira do ator”.
Sobre o recente conflito entre Xuxa e Marlene, assunto do momento em toda mesa de bar, Piny acredita que esse modelo – somente um gerente para toda a carreira – não existe mais. “Pelo que escuto, a Marlene tinha controle até da parte financeira da Xuxa. Isso não existe no meu trabalho. Gerencio a carreira junto ao artista, não tomo decisão por ninguém. É uma grande empresa”. Hoje em dia é de praxe o artista descentralizar a tomada de decisões e montar uma equipe ampla para cuidar de diferentes áreas de sua carreira (negócios, imprensa, redes sociais, stylist etc). Ike, por sua vez, acredita que Marlene fez o que achava melhor no momento. “As declarações da Xuxa me parecem muito de alguém que se tocou depois, mas que na época estava disposta a ouvi-la. Talvez ela tenha errado na forma, mas não na intenção”, defende. No fim das contas, o show não pode parar.