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Vik Muniz recicla clássicos da Disney na exposição ‘Gibi’

Artista brasileiro foi convidado para participar das comemorações dos 100 anos da companhia

Por Giovanna Fraguito Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 mar 2023, 14h16

Vik Muniz, 61 anos, marcará presença na SP-Arte 2023 com a exposição GIBI. A iniciativa faz parte das ações comemorativas dos 100 anos da The Walt Disney Company e as obras também serão expostas na galeria Nichido Contemporary Art, em Tóquio, no Japão, em abril. A instalação de 26 metros quadrados abrigará sete obras realizadas a partir de interpretações dos clássicos gibis de Mickey e seus amigos. Vik conversou com a coluna sobre o seu processo criativo e como é importante a diversidade em grandes companhias de entretenimento.

Como foi o convite feito pela Disney para o projeto? Foi espontâneo, a gente já havia tentado algumas vezes antes. Tenho admiração grande por todo universo Disney. Dessa vez, me procuraram e consegui uma forma criativa de trabalhar com uma companhia que tem essa coisa autoral da autoridade sobre seus personagens. Fiquei feliz de realizar essa série de trabalhos.

Por que é tão fã do Walt Disney? Faz parte da minha cultura, da minha formação como artista, como intelectual. Inclusive já realizei dois retratos do Walt Disney em séries de americanos famosos. É uma pessoa que admiro dentro do contexto da cultura americana. Talvez Disney seja a maior contribuição dos Estados Unidos para a cultura universal, ele tem não só uma universalidade, mas a noção de animismo. Ele dá vida a animais, a coisas, a candelabros… Devolve mágica para o mundo que, dentro do contexto do pós-guerra, estava necessitado.

Como funciona seu processo criativo? O processo começa quando se tem acesso a uma quantidade substancial de material. Tenho tem que criar uma dança entre o que está vendo como material e como se consegue a imagem. Acumulei exemplares de histórias em quadrinhos da Disney, que vão desde Egito até Coreia, Japão… Comecei a adquirir uma quantidade gigantesca de histórias em quadrinhos, muitas eu li quando era pequeno.

Você sempre levantou a bandeira da sustentabilidade nos seus trabalhos, com o uso de materiais recicláveis. O quanto isso segue sendo importante? Estou sempre reciclando coisas. Reciclo imagens que já fazem parte do nosso universo iconográfico. As imagens que você já tem na sua cabeça são populares. Trabalho com ícones, estou sempre copiando imagens e transformando-as em outras coisas. E obviamente reciclo materiais onde se imprimiu. Criação, propriamente dita, é quase uma impossibilidade. Você recria ou transforma.

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E qual o maior objetivo de suas obras? É para tentar mudar algo de alguma forma, ou atualizar, ou perturbar, ou mexer com a maneira como as pessoas estão olhando o mundo que é certo.

Há um movimento de desconstrução dos personagens da Disney, por mais representatividade e diversidade. Como vê esse processo? Isso abrange todo tipo de mídia hoje em dia, não deveria deixar de acontecer nos personagens da Disney. Eles têm que ser atualizados, porque muitos foram criados durante os anos 30, existiam padrões de comportamentos diferentes dos atuais. Até para facilitar a leitura e a proximidade do grande público, têm que ser atualizados de acordo com normas sociais. Aí essas vozes começaram a se imprimir.

Como latino-americano, você se considera parte dessas novas representações? Acho que sim, sou mais uma espécie de vira-lata. Sou filho de cearense com mineiro, morei nos Estados Unidos a maior parte da minha vida e moro no Rio, gosto da Bahia. Tenho uma relação com o mundo que tem a ver com a minha profissão. Não tenho uma camisa “sou latino-americano, brasileiro”, simplesmente sou. Glória Maria, minha amiga, tinha uma frase ótima: “o fato de ser quem eu sou já é uma forma de ativismo”.

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