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Tony Ramos e Denise Fraga falam de Lei Rouanet e interação com público

Em cartaz com ‘O que só sabemos juntos’, no Rio, atores explicam por que preferiram banda apenas de mulheres no palco

Por Nara Boechat Atualizado em 30 ago 2024, 12h10 - Publicado em 30 ago 2024, 10h00

As portas se abrem, e os convidados são recebidos pelos anfitriões. A cena típica de, por exemplo, um jantar na casa de amigos, é a recepção da peça O que só sabemos juntos, estrelada por Denise Fraga e Tony Ramos. Em cartaz no Teatro Casa Grande, Zona Sul do Rio, o espetáculo celebra, com uma plateia de quase mil pessoas, o primeiro encontro nos palcos de dois atores que, juntos, somam um século de carreira. Com direção de Luiz Villaça e produção de José Maria, o espetáculo aborda questões do mundo contemporâneo, desde o aquecimento global até o patriarcado, em meio a diálogos e música – numa banda apenas de mulheres. A seguir, a conversa da coluna GENTE com Denise e Tony no camarim do teatro.

De onde surgiu a ideia da peça? TONY RAMOS: Já tinha assistido duas vezes o Eu de Você, espetáculo anterior da Denise. Fiquei incomodado com aquilo. Incomodado, não confundir com ficar chateado. Aquele estilo de interação com a plateia, de criação coletiva, me fez ver que eu queria voltar ao teatro. Conversei com o Luiz [Villaça] que gostaria de fazer algo parecido, que discutisse a contemporaneidade, as dores e alegrias de cada um de nós, com a plateia. E há cerca de dois anos ele sugeriu uma conversa com a Denise. DENISE FRAGA: Eu de Você inaugurou para mim uma nova maneira de fazer teatro, que é reunir vários criadores na mesma sala. Aí o Tony vem com esse olhar provocativo, falando que tinha ficado tocado com a peça. Quando ele falou da ideia para mim, durante um jantar, vi que ele queria correr perigo com a gente, brincar daquele negócio.

Como é a integração com o público? TR: As histórias são embutidas em vários momentos da dramaturgia.  Algumas que vêm de lá da plateia se colocam ali naturalmente. Denise já estabeleceu correlação com a plateia, que não é fácil. E estou experimentando agora. Não é só abrir uma porta, tem que estar inserido na dramaturgia. E isso é um prazer. DF: O teatro ficou tão a minha casa que já não posso deixar a visita entrar sozinha. Por isso, recebo a plateia como se fosse uma dona de casa. E depois ponho todo mundo para sentar. Talvez na próxima peça a gente sirva um chá ou um café (risos). 

A plateia reage de forma espontânea? DF: A peça tem um negócio que é muito divertido. A gente tem a chance de ver as pessoas enxugando as lágrimas das gargalhadas, alguém que está ali emocionada e dá uma risada. Nesses dias em que a atenção de todos está tão dinamitada, estragada pelo digital, não é fácil capturar alguém. Tem um momento que o Tony pede para todo mundo fechar os olhos. Fico impressionada porque a gente vê aquela parede, teatro de quase mil lugares, todos com olhos fechados. TR: Hoje em dia vemos muita gente sôfrega, em cima de um laptop ou tablet, mas durante a peça ninguém está com telefone no colo. É bonito de ver.

A peça conta com banda formada só por mulheres. O que levou a escolha de um grupo feminino? DF: É importante, em um meio machista, que é o meio da música. Quando coloca uma banda só de mulher, de alguma maneira, você denuncia isso, faz algo fora do discurso.

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O público do teatro aumentou após a pandemia? TR: O teatro criou uma nova plateia. De fato, veio com força depois da pandemia. Estão lotados. As pessoas queriam muito ter essa experiência. Com os serviços de streaming, o cinema fica movido por blockbusters, com efeitos especiais. A criançada e adolescentes adoram isso. DF: A pandemia foi terrível, mas o saldo bom que tiramos é entender o quanto nos fazia falta a experiência coletiva. Quando você escuta o cara do seu lado dar uma fungada, você tem mais coragem para chorar. Quando ri, ele te faz entender melhor a piada. A experiência coletiva é diferente do que você vê sozinho no seu sofá.

A peça está inscrita na Lei Rouanet. Como vocês veem hoje o investimento do Governo Federal na cultura? DF: No governo anterior havia uma Secretaria de Cultura, mas os projetos simplesmente não andavam. Por exemplo, a gente tem um que está mofando lá até hoje. E agora está acontecendo o que deve acontecer sempre. Os projetos são analisados e a gente espera acontecer. A gente viveu tempos sombrios com um governo que se declarava inimigo da cultura e dos artistas. Isso é terrível. Agora há iniciativas para um país forte, com arte, cultura, ciência e educação. 

Vocês acham que a peça aconteceria no governo anterior? TR: Por que não? A gente ia tentar do mesmo jeito os caminhos. DF: Talvez a gente tivesse prejuízo. O que precisamos para montar essa peça, como uma banda com essa qualidade musical, não conseguiríamos fazer. Além disso, tem acessibilidade em todas as sessões. Haveria mais burocracia para tentar aprovar um espetáculo dessa importância, mas a gente ia se virar.

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Tony, como é voltar aos palcos depois de 20 anos dedicados ao audiovisual? TR: Não fazia teatro por inúmeras razões, mas todas elas passavam por agendas. O convite não vinha na hora certa para fazer uma peça. Até que eu Eu de Você e falei: “Como é que pode a gente brincar junto?”. Quando terminei a novela Terra e Paixão, que durou exatamente 14 meses, me sentei com esse povo e começamos a trabalhar.

Serviço: O que só sabemos juntos – Teatro Casa Grande, no Leblon, até o dia 8 de setembro. Quintas, sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h. Ingressos de 21 a 200 reais.

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