Um momento inusitado e histórico marcou uma das entregas de medalhas no tênis de mesa durante os Jogos Olímpicos de Paris nesta quarta-feira, 31. Em meio a tensão política vivida por Coréia do Sul e Coréia do Norte, atletas dos dois países tiraram fotos descontraídas ao subirem no pódio.
Quem tomou a iniciativa foi o sul-coreano Lim Jong-hoon, que, ao lado de Shin Yu-bin, conquistou o bronze nas duplas mistas da modalidade. Ele sacou o celular, um Samsung, que por sinal é de origem de seu país, e protagonizou a cena com os norte-coreanos Ri Jong Sik e Kim Kum Yong, que ganharam a prata, e os chineses Wang Chuqin e Sun Yingsha, vencedores do ouro. Um dos principais periódicos da Coréia do Sul, o JongAng Ilbo, fez questão de publicar: “Selfie com as bandeiras nacionais das duas Coreias e um celular Samsung”. A mídia dos dois países tem dado enorme repercussão ao episódio.
Os Jogos de Paris, aliás, nunca foram tão midiáticos quanto todas as outras já existentes, a começar pela permissão das selfies no momento em que os atletas recebem as medalhas nos pódios. Esse ato era proibido até a última disputa, em Tóquio.
Esse gesto chamou a atenção quando Rayssa Leal, ao ganhar a medalha de bronze no skate, sacou o celular para tirar uma selfie ao lado das japonesas Coco Yoshikawa e Liz Akama. Essa liberação, é verdade, faz parte do acordo com um dos patrocinadores oficiais do evento, a Samsung, que distribuiu mais de 15 mil celulares aos participantes de todas as delegações. Se não bastasse isso, os esportistas ainda precisam entrar em um aplicativo para ter acesso às imagens, fazendo com que a marca seja, de fato, explorada.
O Comite Olímpico Internacional (COI) é bastante severo quanto à utilização das redes sociais nos Jogos Olímpicos, mas a regra 40, estipulada neste ano, concede, de certa maneira, o interesse dos patrocinadores durante os atos olímpicos.
“O COI tem razão em blindar os parceiros oficiais, que fazem altos investimentos para se colocarem no evento em nível global. No entanto, é preciso também que haja um entendimento de que as Olimpíadas são o ápice das carreiras dos competidores e é justamente neste momento que eles podem faturar com receitas de publicidade de forma mais robusta. É uma discussão sensível, mas este passo de liberação para que os atletas registrem imagens no pódio pode ser o início de uma flexibilização maior daqui pra frente”, aponta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo, e que faz a captação de contratos entre marcas envolvendo profissionais do esporte.
Entre as normas mais rígidas está justamente o fato de filmar ou reproduzir imagens por meio de aparelhos próprios ao receber as medalhas, mas o acordo com a Samsung dribla essa regra. Também está vetado aos atletas fazer imagens durante as competições ou filmar os companheiros sem permissão.
“Apesar de ter uma percepção para o público geral muito comercial, que pode ver que pode ver isso como uma mercantilização do espírito olímpico, a iniciativa capta com excelência a eterna busca por encontrar outras opções de monetização. É uma busca incessante por novos formatos. O sucesso dessa iniciativa dependerá de como ela será implementada e recebida por todos os envolvidos”, opina Wagner Leitzke, líder do marketing digital da End to End, produtora de conteúdo oficial das redes sociais do Time Brasil durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
A liberação das selfies no pódio, casada com uma ação comercial e de marketing entre COI e Samsung, é inédita na história e comprova, mais uma vez, que até os Jogos Olímpicos começam a abrir precedentes para a Era do merchandising.