Aos 82 anos, Renato Aragão mantém uma agenda de trabalho cheia. Prestes a lançar a primeira biografia sobre a sua vida, o humorista natural de Sobral, no Ceará, ainda se prepara para gravar um longa com o diretor João Daniel e afirma que tem planos para o futuro na televisão. “Quero respirar agora. Passando o lançamento da biografia e a gravação do filme, volto à luta e vou com os meus projetos para a TV. Aposentadoria, jamais”, contou a VEJA.
O livro Renato Aragão: do Ceará para o Coração do Brasil (Sextante, 304 páginas, 49,90 reais o impresso e 29,90 reais no formato digital) é a primeira biografia do cearense que ficou conhecido pela criação do personagem Didi, integrante dos Trapalhões. Escrita pelo roteirista Rodrigo Fonseca, a obra revisita toda a vida de Aragão e será lançada no próximo dia 4 de dezembro.
Uma das cenas mais emocionantes entre os relatos é o acidente de avião que sofreu em 1958. Aragão ainda era estudante de direito e viajava em um avião Curtiss C-46 quando voltava para Fortaleza depois de participar dos Jogos Universitários Brasileiros em Belo Horizonte. A aeronave se chocou com uma mata densa perto de Campina Grande, na Paraíba. A queda deixou dez mortos e diversos feridos. O humorista saiu sem sequelas, mas o acidente o marcou. “Revisitar todo o passado mexeu comigo. Remoí histórias desde a minha infância. São coisas que não costumo contar em entrevistas”, afirma.
Com contrato assinado com a TV Tupi, Renato foi morar no Rio de Janeiro em 1964 e revela: “Na época, sofri muito preconceito”. O humorista, que tinha referências do cinema, sentiu a diferença em relação aos atores de televisão, que ainda estavam acostumados com a interpretação de rádio. “As pessoas mais antigas da emissora não aceitaram meu estilo de atuação, mas os jovens viram que era um humor diferente e eu ganhei espaço. No começo, senti um rechaço das pessoas, mas foi rápido e eles engoliram.”
A nova versão de Os Trapalhões exibida em julho deste ano contou com Renato Aragão entre os roteiristas. A produção provocou discussões sobre piadas com conteúdos preconceituosos, como machismo, racismo e homofobia. “Fazíamos as piadas sem a intenção de ofender ninguém. Não tinha passado pela nossa cabeça, na época. Hoje, não vamos fazer piada de uma pessoa gorda ou magra. Isso não tem graça”, defende Aragão.